Maria Esmeralda, 80 anos, energia, arte e significação

Com 80 anos de idade a atriz acumula 60 anos de carreira vividos entre peças, aplausos e militância artística (Foto: Ale Catan)

Bonita, intensa, vibrante, Maria Esmeralda Forte é a atriz mais velha a participar do FIT 2017, protagonizando a peça 'Programa Pentesiléia – Treinamento para Batalha Final', da dramaturga italiana Lina Prosa. Numa época em que a longevidade está em pauta, ela dá lições de energia e significação no  palco, expondo a luta da sua personagem que, mesmo enclausurada, se prepara para uma batalha dolorida com Aquiles, o herói vivido por Antônio Salvador.

Nos dois atos de Pentesiléia, a atriz se movimenta numa maca de ferro, único elemento do cenário que pode ser um sanatório ou uma prisão, remexe velhas lembranças e se transforma em uma brava guerreira. Vigor, experiência, tenacidade, fúria se entrelaçam. O palco do Teatro Humberto Sinibaldi Neto vai ser transformado para acomodar a plateia nele.

Referência na história do teatro no Brasil, Maria Esmeralda nasceu em Belém, Pará, e chegou ao Rio aos 18 anos, para estudar Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas com bolsa de estudos, depois de passar por vestibular. Logo começou a frequentar aulas de teatro, dando continuação aos teatrinhos de sua infância. Até que aceitou convite da atriz Rosamaria Murtinho para atuar num espetáculo e enveredou pelas sendas do teatro. Para nunca mais sair. Tinha 20 anos.

Maria Esmeralda fez teatro, cinema e TV. No teatro, atuou nas peças: A Tempestade, A Vida Como Ela É, Menino de Paixões de Ópera, O Correio Sentimental de Nelson Rodrigues, Tragédias Cariocas para Rir , Cândido, ou o Otimismo , A Vida Como Ela É, A Maldição do Vale Negro, A Rosa Tatuada, Os Fuzis da Sra. Carrar, Hoje é Dia de Rock, entre muitas outras.

Participou do histórico grupo Teatro dos Sete, com Ítalo Rossi, Gianni Ratto, Fernanda Montenegro e Sérgio Britto em montagens como 'Com a pulga atrás da orelha', de Feydeau, 'O beijo no asfalto', de Nelson Rodrigues, e 'Festival de Comédia', junção de textos de Cervantes, Molière e Martins Pena.

Integrou A Comunidade, do diretor Amir Haddad, destacando-se com a peça 'Somma', além do Núcleo Carioca de Teatro, dirigido por Luiz Arthur Nunes, desde 1988.

Também fez cinema, participando do filme 'Perdidos e Malditos'. Na TV, participou de teatro pioneiro na Tupi e ainda teve atuação nas novelas 'Irmãos Coragem', 'Sangue e Areia', 'Sonho de Amor', 'Vitória' e 'Pouco Amor Não É Amor'.

Tornou-se amiga do crítico Yan Michalski, ligou-se a movimentos contestatórios, brigou pela liberdade de expressão nos palcos e na vida. Integrou o Comitê Brasil Anistia e conserva até hoje essa chama de batalha por um ideal. "A gente tem que lutar sempre. Só não participo mais de reuniões, estou cansada".

Nunca pensou em fazer carreira solo."Gosto de trabalhar com coletivos, geralmente eles tentam buscar uma linguagem diferente. Além disso, é muito bom atuar em um ambiente em que todos estão envolvidos com o espetáculo, desde quem está em cena até o cenógrafo, o figurinista, o fotógrafo. No grupo se desenvolve uma linguagem específica, uma estética que me fascina."

É professora há 30 anos, lecionando interpretação na Casa das Artes de Laranjeiras. "Esse contato com alunos me renova como pessoa, adoro trabalhar com jovens. A troca com os alunos alimenta o ator. Não me sinto com 80 anos ainda," diz.

Mora no Jardim Botânico, "nas  fraldas do Cristo", não professa religião nenhuma, porque a religião divide as pessoas, segundo ela. Filha de empreendedor do ramo automobilístico e de dona de casa, Esmeralda teve infância boa e calma. Seu primeiro contato com o palco foi a garagem de casa, onde seu irmão armava um palco para um humilde teatrinho. No colégio, era chamada para todas as peças. No bairro, era conhecida como a 'menina que fazia teatro'. "Então todo mundo me chamava para declamar poesias," conta.

Depois de Rio Preto, Pentesileia será encenada no Sesc Belenzinho, Capital, a partir de 4 de agosto.

E assim segue Maria Esmeralda, infatigável e interessada na vida.

Comentários