De quanto espaço eu preciso?

José Renato Nalini
secretário estadual de Educação

O sonho da casa própria, para muita gente, virou delírio. Quem "progrediu" na vida quis edificar mansões. Quanto maior, melhor, era a noção inquestionável. Com o tempo, a opção mostrou-se problemática. Já não existe mão-de-obra disponível para manter a casa conforme o desejável. Conheço amigos que não entram senão raramente em determinados cômodos de suas enormes residências.

É por isso que prospera nos Estados Unidos - e aqui chegará, mais dia menos dia, porque sempre copiamos o "irmão do Norte - a tendência a minicasas. Os americanos sonhavam com aquelas residências amplas, sem muros, arborizadas e com área obrigatoriamente destinada a um jardim. No qual o próprio dono trabalharia nos fins de semana, unindo a estética, o respeito ao ambiente e a necessidade de manter o corpo saudável.

Isso arrefeceu por uma série de razões. A crise imobiliária de 2008 viu inúmeros pais de família abandonarem suas casas de 250 metros quadrados por moradias de um décimo disso: 25 metros quadrados. Ou até menos.

O movimento se chama "Tiny House Movement" (ou Movimento de Casas Minúsculas). Não é apenas por economia. É para tornar a vida mais simples. Quantos de nós não nos preocupamos em juntar, colecionar, agregar, tornar difícil a vida de nossos descendentes quando formos chamados a acertar contas com o Criador. É sábio aprender a desapegar da matéria e a viver com menos. A simplicidade também tem lugar na mente dos mais lúcidos.

Uma casa menor não tem espaço para inutilidades. Dá menos trabalho para quem mora nela. Propicia liberdade ao morador, que pode viajar à vontade, sem ficar se remoendo a lembrar o que o aguarda no retorno.

Nos Estados Unidos, cerca de 1% das novas residências têm até 25 metros quadrados. A popularidade do tema já produziu dois "reality shows". O mais famoso, "The House Nation" está na quarta edição. Se no Brasil esta tendência ainda não foi disseminada, nota-se a procura por apartamentos minúsculos, oferecidos a quem queira morar na capital ou nos grandes centros. E existe empresa especializada em transformar contêineres usados em minicasas de veraneio. Uma casa pronta, feita de contêiner, custa cerca de R$ 63 mil. Ela está sendo utilizada principalmente para a praia ou para sítios. É segura e entregue em 30 dias.

Como somos criativos e imaginação não nos falta, é o momento oportuno para fazer com que o alunado das Escolas Públicas descubra esse filão e projete residências menores, mais econômicas e de rápida confecção, para suprir um mercado sequioso por novidades e também atender à demanda pela casa própria.

Simplicidade está em alta no mundo todo. O Brasil não pode ficar para trás. Mansões nem sempre trazem felicidade. Perguntem a quem as possui e também indaguem: - De quanto espaço você precisa para ser feliz?
 

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