Compostagem

Reginaldo Villazón

De acordo com a última estimativa publicada pelo IBGE, em 2017 a safra nacional de grãos (cereais, leguminosas e oleaginosas) deverá atingir 233 milhões de toneladas. O país também tem cana, café, laranja e outras culturas de grande expressão. Isto insere o Brasil na lista dos maiores países agrícolas do mundo. Para realizar essa proeza, 30 milhões de toneladas de fertilizantes são utilizados por ano. E para obter maiores safras anuais será preciso utilizar mais fertilizantes.

 
Dois problemas se juntam. A grande quantidade necessária e o fato de que 75% desses fertilizantes são importados. Assim, nossa agricultura fica cara, atrelada ao dólar e dependente de importações. O Brasil nem pode sustentar disputas políticas e econômicas com países fornecedores de fertilizantes (como a Rússia), pois nossa agricultura não pode sofrer desabastecimento. O aumento da produção nacional de fertilizantes impõe desafios econômicos, logísticos e ambientais.

O Brasil terá que investir em outros recursos de fertilização agrícola, como a utilização de rochas nacionais trituradas (em pó, ricas em nutrientes) e a rotação de culturas com plantas leguminosas. Todos os recursos serão válidos. Façamos uma especulação simples com números inteiros. O Brasil tem 175 milhões de habitantes nas cidades; cada um produz 1,0 Kg de resíduos sólidos urbanos por dia (lixo). Portanto, o país produz 63 milhões de toneladas de lixo urbano por ano.

Todo esse lixo pode ser reciclado. Metade dele se constitui de metais, vidros, plásticos, papelões e outros materiais. A outra metade é material orgânico: resíduos de alimentos (de residências, restaurantes, supermercados, centros de abastecimento) e resíduos vegetais da limpeza urbana. Esta metade orgânica pode ser fragmentada e fermentada, num processo técnico chamado compostagem, para se transformar em excelente fertilizante orgânico. Isto é feito no Brasil em pequena escala.

A Usina de Compostagem de Bremen (Alemanha) processa todo o lixo orgânico da cidade de 580.000 habitantes. O lixo orgânico é coletado pela própria Usina de forma seletiva: resíduos de podas de grama e árvores, resíduos alimentares de casas e estabelecimentos. Os resíduos das plantas são tratados a céu aberto e os alimentares dentro de galpões fechados. Há controles técnicos e máquinas automáticas. A Usina tem selo de certificação e analisa a qualidade da sua produção.

A compostagem urbana não é a solução total da fertilização agrícola. Mas todas as cidades do Brasil (e do mundo) terão que fazê-la, por necessidade e interesse. Nós já temos legislação e empresas para sua execução, mas nossas instituições públicas não estão preparadas para expandi-la com êxito. No entanto, a compostagem artesanal faz parte da rotina dos nossos agricultores orgânicos. Por certo, todos nós, de algum modo, vamos participar dessa civilização sustentável.

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