Dramas da escassez

Reginaldo Villazón

Na semana passada – dia 22 de março – comemorou-se mais um Dia Mundial da Água. A data serve para renovar a nossa atenção sobre a importância, o uso racional e a preservação da água no planeta. De pronto nos ocorre que o Nordeste brasileiro – mais uma vez – passa por um longo período de estiagem, que faz secar açudes, rios e poços, que faz perecer animais de criação, plantas de cultivo e a vida natural. Além da desolação que causam, essas estiagens prejudicam o desenvolvimento da região.

 
É um erro pensar que somente o Nordeste do país – com18% do território e 28% da população do Brasil – sofre com estiagens prolongadas. Hoje, estiagens longas acontecem em todas as regiões do país. No Rio Grande do Sul, houve secas em 2004-2006 e 2012 que causaram grandes perdas nas safras de grãos. A grande seca no Estado de São Paulo, nunca imaginada antes, culminou em 2014 com níveis baixíssimos de água nos reservatórios municipais e as torneiras da população urbana sem água.

É comovente e assustador ver imagens de terras ressecadas, vegetações esturricadas, animais exauridos. Mas a tendência é piorar. Segundo as Nações Unidas, hoje a escassez de água afeta 1,0 bilhão de pessoas no mundo. E daqui a 25 anos o problema deve atingir 2,7 bilhões de pessoas. Além das mudanças climáticas naturais, os ambientalistas alertam para as ações humanas contra o meio ambiente, como a devastação de florestas, a derrubada de matas ciliares e a destruição de nascentes de rios.

Parece um disparate tal preocupação porque a água ocupa 3/4 da superfície da Terra. No entanto, de toda a água existente no planeta, 97% são de água salgada e somente 3% água de doce. Para complicar, grande parte da água doce (1,9% da água total) está em geleiras, icebergs e solos profundos. Só uma pequena fração da água doce (0,1% da água total) está disponível para uso. Esta situação não é boa, mas sinaliza que o gênio humano poderá lançar mão da obtenção de água doce e reciclagens.

De fato, é possível aumentar a disponibilidade de água doce na natureza através de cuidados ambientais. E já existem tecnologias eficientes de filtragem e purificação de água do mar, água de chuva, águas salobras de poços e água de esgoto. Elas estão em uso em vários países, como Estados Unidos, China, Austrália, Espanha, Israel e Brasil. No Nordeste brasileiro há uma vantagem. O fator mais importante (energia elétrica) pode ser captado na natureza de forma sustentada: do sol e dos ventos.

Técnica e economicamente, agora é uma falha ver a escassez de água – em qualquer região – como um fator limitante ao desenvolvimento, inclusive do ponto de vista da agricultura. As causas reais que embaraçam o desenvolvimento dessas regiões são políticas e sociais, que não viabilizam mudanças indispensáveis nas estruturas de governo, justiça, educação, finanças e distribuição fundiária. O planeta não vai nos negar oportunidades continuadas de vida. Mas nada nos dará gratuitamente.

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