GAUDÊNCIO
TORQUATO
|
Não há como deixar de reconhecer: o
produto nacional bruto da felicidade está escasso. Demandas: melhores serviços
públicos, a partir da saúde, da educação e da segurança; mais dinheiro no bolso
e menos impostos; representação política compromissada; condutas éticas e
morais; equilíbrio entre os três Poderes, sem invasão de um nas competências de
outro; menos espetáculo nas ações a cargo do Ministério Público e da Polícia
Federal. Desafios: não gastar mais que se arrecada; reformar as relações de
trabalho; garantir os recursos para pagar os aposentados; sistema tributário
mais justo; novos métodos para a ação política, a partir de mudanças na
modelagem eleitoral. Essa é a pauta que deve orientar o debate na frente
institucional.
Analisemos algumas dessas
situações. Desde o Plano Real, dos tempos de FHC, a carga de redistribuição
colaborou para diminuir o imenso fosso que separa os territórios dos ricos dos
bolsões dos miseráveis. Na era Lula, houve considerável salto de parte da classe
C, que saiu das margens para ocupar o primeiro andar do centro da pirâmide. Mas
a derrocada que se viu a partir do ciclo comandado por Dilma Rousseff pôs tudo a
perder.
Por isso, o brasileiro está
insatisfeito. De um lado, dá as costas à política, indignado com o tsunami de
corrupção. Quer um fiador da estabilidade econômica. Enquanto essa não aparece,
as loas são despejadas no Judiciário, onde um juiz de primeira instância, Sérgio
Moro, é entronizado como herói.
Fosse escolher a lenda
mitológica que mais se assemelha à sua vida, provavelmente o povo brasileiro
colocaria a história do castigo de Sísifo, que viveu vida solerte e audaciosa,
conseguiu livrar-se da morte por duas vezes, sempre blefando. Rei de Corinto,
não cumpria a palavra empenhada, até que Tânatos veio buscá-lo em definitivo.
Como castigo, os deuses o condenaram a levar montanha acima um grande bloco de
pedra. Quase chegando ao cume, o bloco desaba montanha abaixo. A maldição de
Sísifo é recomeçar tudo de novo, tarefa que há de perdurar pela
eternidade.
O povo brasileiro se sente em
estado de eterno recomeço. Quando acha que as coisas estão se normalizando, o
desastre aparece.
Ora, que amor à Pátria pode
existir em espíritos tomados pela indignação, pela violência, pelo rebaixamento
dos valores morais, pelas negociatas que corrompem as veias do Estado? Que
espírito público pode vingar no seio das massas quando partidos políticos
dividem espaços de poder, de forma egocêntrica e ignominiosa?
Emigrar tem sido a opção de
muitos brasileiros. A instabilidade deixa, hoje, 13,5 milhões de brasileiros sem
emprego. Nesse contexto, não haverá saída ao país se não fizermos as reformas
necessárias ao resgate da economia. Sem elas, não haverá estabilidade
monetária.
A crítica sobre o desempenho dos
governantes torna-se aguda. Cresce o número de reclamações, explodem as
denúncias sobre negligências, malhas de corrupção, jogos de interesses.
Urge cortar os laços com os
galhos podres do passado patrimonialista e construir as vigas do futuro. Urge
reformar a Previdência para a garantia de um horizonte menos perturbador para os
aposentados. Urge um choque de gestão na máquina pública. Urge implantar a
meritocracia como eixo da gestão.
A reforma da estrutura estatal,
nas três instâncias da Federação, torna-se um imperativo. A tão propalada
reforma do Estado deve sair do papel. A base das mudanças se ancora na educação.
A reforma educacional é absolutamente indispensável e urgente. O analfabetismo
na população acima de 15 anos ultrapassa os 15%.
No
mais, os cidadãos brasileiros querem ter um Estado protetor e não viver sob o
manto de um Estado paquidérmico e usurpador.
|
Gaudêncio Torquato, jornalista,
professor titular da USP é consultor político e de comunicação. Twitter:
@gaudtorquato
|
Comentários
Postar um comentário