Bem conectados

Reginaldo Villazón

Durante nossa existência, enfrentamos dificuldades e alimentamos expectativas, próprias de cada fase da nossa vida individual. E ainda somos afetados – no mínimo, psicologicamente – por acontecimentos que caracterizam etapas de estagnação, declínio e expansão da vida coletiva. Nesta vertente coletiva, no Brasil hoje lamentamos o desemprego de milhões de trabalhadores, acompanhamos com tristeza os escândalos de corrupção, assistimos com inquietação as manobras políticas dos congressistas.

É ainda mais desanimador constatar que problemas graves, sem perspectivas de solução, ocorrem em todo o mundo. Para piorar, vemos que os infortúnios são intensificados pelos desregramentos sociais e pelas leviandades políticas. Por isto, muitas vezes se faz presente a pergunta: "haverá uma luz no fim do túnel?" Felizmente – ainda que muitos sofrimentos sejam inevitáveis – a resposta é sim. Basta observar que existem pessoas (muitas delas jovens) que superam o caos geral com grande competência.

Em 1997, aos seis anos de idade, o menino canadense Ryan Hreljac soube na escola que muitas crianças na África não tinham acesso usual à água e precisavam andar por quilômetros diariamente para obtê-la. Dois anos depois, o primeiro poço pago com recursos arrecadados por ele foi aberto numa escola de Uganda. Desde essa época, à frente de uma Fundação que leva o seu nome, Ryan (atualmente com 25 anos) arrecadou recursos no mundo para abrir mais de 800 poços na África e beneficiar 800 mil pessoas.

Em 1999, aos nove anos de idade, duas amigas costa-riquenhas notaram que o avanço humano sobre as matas prejudicava os animais nativos. Elas arrecadaram recursos e instalaram passarelas de cordas sobre as estradas – no Parque Nacional Manuel Antônio, na Costa Rica – para proteger e viabilizar a vida dos animais, em especial pequenos macacos. A ação delas evoluiu com sucesso. Milhares de novas árvores foram plantadas. Foram criados um Centro de Resgate e um Santuário de animais silvestres.

Em 2013, quatro jovens universitários brasileiros – Ralf Toenjes, Fábio Rodas Blanco, Bruna Vaz e Eduardo Bastos Borim – tomaram conhecimento de uma organização social alemã que havia fornecido gratuitamente óculos corretivos a 150 milhões de pessoas carentes no mundo. Eles instalaram em São Paulo uma indústria montadora de óculos e criaram o Projeto VerBem, utilizando recursos de empresas patrocinadoras. Nos três primeiros anos, eles entregaram 12 mil óculos em 12 estados brasileiros.

Ignorar as realidades das crises, instabilidades e turbulências não é uma boa ideia, pois significa alienação. Mas, também não é bom ficar conectado e acreditar nessas situações ruins, que significam estagnação e declínio. Pessoas bem conectadas (em assuntos, projetos e condutas de boa qualidade), como aquelas que exemplificamos, são luzes que brilham no fim do túnel. Elas não se perdem em devaneios, mas empreendem e logram resultados. Elas se multiplicam, ganham respeito, servem de referência.

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