Desconstrução

Reginaldo Villazón

O jogo de forças das potências mundiais, hoje, não pode ser visto simplesmente do ponto de vista militar, da capacidade de defesa e ataque com armas poderosas. Alguns países, munidos de mísseis carregados com ogivas nucleares, até promovem momentos de tensão. Mas a possibilidade de um artefato desses ser acionado, deflagrando uma guerra, só é aceita em um caso eventual de perturbação emocional de algum líder nacionalista. Na época atual, superioridade bélica não tem o peso de antes.

Os Estados Unidos continuam no topo do poder de fogo, sustentando armas convencionais e nucleares em terra, mar e ar. Mantendo bases militares em 40 países. Operando sistemas avançados de vigilância e espionagem. Por outro lado, sua soberania mundial mostra enfraquecimento por diversas causas. A transferência de grandes indústrias do país para países asiáticos, onde a mão-de-obra é mais barata, revelou-se uma péssima estratégia para a saúde econômica norte-americana.

Essa desindustrialização forçada nos Estados Unidos fechou postos de trabalho, elevou o número de desempregados e reduziu a renda das famílias. Em conseqüência, fez crescer a inadimplência junto aos bancos e acarretou o abandono de casas hipotecadas. Aos milhões, como um terremoto. Enquanto isso, países asiáticos se tornaram fortes pólos industriais, tiveram acesso a novas tecnologias, passaram a gerar novos produtos e intensificaram o comércio internacional em suas regiões.

O deslocamento de parte do poder político e econômico do Ocidente (Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e outros) para o Oriente (China, índia, Coréia do Sul e outros) foi beneficiado por práticas de pessoas gananciosas, que prejudicaram a política e a economia nos Estados Unidos e afetaram os parceiros ocidentais. O G7 (Grupo dos Sete: EUA, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido) e a União Européia (formada por 28 países) hoje colecionam muitos problemas.

Observando três grandes países – EUA, China e Rússia –, pode-se ver que suas estruturas culturais, políticas e econômicas são diferentes e seus desempenhos desiguais em matéria de desenvolvimento e relações internacionais. Isso pode significar que o processo de globalização ofereça oportunidades crescentes de progresso e integração, mas não interfere em favor da criação de sociedades com características semelhantes. Em poucas palavras, cada nação vai continuar dona do seu destino.

De acordo com estudiosos, os abalos que desarrumam os Estados Unidos apontam o fim do império norte-americano e o advento da multipolaridade no poder mundial. Neste sentido, os Estados Unidos (e os seus parceiros) deverão focar seus esforços na solução dos seus problemas internos (políticos, econômicos e sociais). O Brasil não será exceção. Terá muito que fazer nessas áreas – incluindo educação e saúde – para não ficar fora de destaque na globalização. Nossa luta democrática deve prosseguir.

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