Implicações éticas da paz

Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales



Findamos o ano fazendo um balanço, identificando desafios e renovando esperanças. Se a humanidade existe há milhões de anos e, hoje, ainda enfrenta problemas gravíssimos, devemos nos perguntar sobre a qualidade de nosso desenvolvimento humano e de nossos projetos de vida. Nosso balanço de fim de ano deve, portanto, ser mais profundo do que supomos. Nossos projetos devem ser mais coerentes do que costumamos imaginar.

O que mais desejamos ao iniciarmos o novo ano senão a paz? Por isso, celebramos, no dia 1° de janeiro, o Dia Mundial da Paz. Este dia, instituído pelo Papa Paulo VI, começou a ser celebrado em 1968, no auge da Guerra do Vietnã, quando muitos povos, inclusive o povo brasileiro, estavam assolados por governos autoritários; época do assassinato de Martin Luther King; e tempo de protestos, especialmente juvenis, em prol de liberdade. Desde então, Paulo VI e seus sucessores manifestaram-se a cada ano, nesse dia, associando paz, justiça e condições dignas de vida.

De 1979 a 2005, João Paulo II tratou em suas mensagens para esse dia, temas relacionados à paz, como respeito às crianças, discriminação, desenvolvimento, solidariedade, conflitos mundiais, pobreza, educação, perdão, justiça e direitos humanos. Sua aguçada consciência ecumênica levou-o a promover em 1986, o Dia Mundial de Oração Pela Paz, reunindo líderes de distintas religiões como um sinal profético de esforço comum em favor da paz mundial.

Bento XVI deu sequência a esta saudável tradição, abordando questões cruciais como respeito à pessoa humana, combate à pobreza, defesa do meio ambiente e desafio da família humana em ser uma comunidade solidária. Em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2011, sob o lema "Liberdade Religiosa, Caminho para a Paz", ele afirmou dolorosamente que, "em algumas regiões do mundo, não é possível professar e exprimir livremente a própria religião sem pôr em risco a vida e a liberdade pessoal". Por isso, exortou "os homens e mulheres de boa vontade a renovarem o seu compromisso pela construção de um mundo onde todos sejam livres para professar a sua própria religião ou a sua fé e viver o seu amor a Deus com todo o coração, toda a alma e toda a mente".

No Brasil, a liberdade religiosa adquiriu estatuto legal em 1891, foi reafirmada na Carta Magna de 1934 e permanece na constituição atual, outorgada em 1988. Embora casos de intolerância religiosa estejam sendo frequentemente denunciados, nota-se um esforço crescente de várias denominações religiosas de trabalharem em conjunto como condição para construir a tão almejada paz social. O movimento ecumênico no Brasil, representado, sobretudo, pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, do qual a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil faz parte, tem entre seus objetivos, "promover a justiça e a paz".

Inspirados por essas belas iniciativas e pela mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2017, sob o lema "A não-violência, estilo de política para a paz", sejamos neste novo ano, muito mais corajosos na luta contra a cultura da violência que invade todas as realidades da vida humana, inclusive nossos lares. Busquemos, pois, a verdadeira paz, cuja fonte é Deus, com suas implicações éticas, agindo em favor do que é justo e digno a todos os seres humanos, construindo-a em nossos relacionamentos interpessoais e lutando por ela, sobretudo onde se faz mais necessária.

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