Comunidades

Reginaldo Villazón

Até a deflagração da Primeira Guerra Mundial, em 1914, apenas uma pessoa – entre vinte – morava e trabalhava em cidade. O mundo era rural. Mesmo nos países europeus, mais favorecidos pela industrialização e pelo comércio, a população urbana era bem menor do que a rural. As cidades eram precárias, insalubres e perigosas. No final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a população urbana já representava 40% do total. As condições de organização, higiene e segurança das cidades melhoraram.

No ano 2000, mais de dez países alcançaram taxas de população urbana superiores a 80%. E alguns países, que 40 anos antes eram fartamente rurais, tornaram-se mais urbanos: Coréia do Sul (28% para 86%), Brasil (45% para 81%), Malásia (27% para 57%). Hoje, estudiosos e governantes trabalham com a previsão de que, no futuro, quase toda a humanidade vai viver nas cidades. Isto significa que os governos deverão garantir os meios de sustentação das suas populações especialmente nas cidades.

Não será fácil manter o fornecimento regular – a bilhões de pessoas instaladas nas cidades – de recursos essenciais (habitação, energia, alimentos), saneamento básico (água potável, coleta e tratamento de esgoto, coleta e reciclagem de lixo) e serviços fundamentais (transporte, educação, saúde). Falhas e colapsos poderão causar transtornos e tragédias. Há que se fazer uma revolução política, econômica e tecnológica. Isso explica os ensaios de cidades auto-sustentáveis, como Dongtan (China).

Mas isso não é tudo. É certo que as cidades evoluíram e a vida das pessoas nas cidades tornou-se melhor. Porém, segundo os estudiosos, as cidades não atingiram o nível civilizatório suficiente para serem chamadas comunidades. Morando nas cidades, as pessoas evitam contatos com outras pessoas, isolam-se em suas casas. Limitam seus relacionamentos a pessoas da família, do trabalho e de algum grupo social. É uma incoerência optar por viver em aglomerados e desejar ou ser forçado a afastamentos.

A natureza ensina que, para viver de forma sustentável, os seres vivos devem estar interligados em sistemas de relacionamento onde existem benefícios e compromissos. Esses sistemas de relacionamento, ou ecossistemas, são as comunidades. Obrigatoriamente, os indivíduos precisam viver em comunidade para responder aos desafios da vida, desenvolver suas capacidades individuais e gerar habilidades coletivas. Assim é possível contornar os obstáculos naturais e viver em equilíbrio com o todo.

Há países e regiões diferentes – mais avançados ou mais atrasados –, quanto ao desenvolvimento comunitário das suas cidades. Já existem, no Brasil e no mundo, cidades convenientemente aparelhadas, bem cuidadas e seguras, onde a população residente e os visitantes se interagem para fruir com liberdade das regalias locais. Isto é animador. A revolução necessária no mundo será possível. Mas, desde já, todos os agentes públicos e privados precisam aprender a pensar e agir em favor do bem de todos.

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