Vento que sopra lá

Reginaldo Villazón



A notícia mais explosiva da semana, que causou perplexidade no mundo, foi a vitória do candidato republicano Donald Trump (empresário rico e falastrão) -foto- sobre a candidata democrata Hillary Clinton (política de carreira e elegante). A eleição foi realizada na terça-feira, 08 de novembro de 2016. A maioria das pesquisas eleitorais dava como certa a vitória da candidata democrata. Por exemplo, a pesquisa Reuters/Ipsos, publicada 4 dias antes da eleição, apontava a vitória de Hillary por 4 a 7 pontos percentuais.

Foi na madrugada do dia 09 que o mundo soube o resultado, constatado na apuração dos votos. Donald Trump havia passado por cima das previsões e estava eleito o 45º. presidente dos Estados Unidos da América. Venceu com o lema de campanha "Make America Great Again" (Faça a América Grande Novamente). De fato, seus discursos foram fortemente nacionalistas. Falou em ativar os negócios em favor do país, em recuperar os empregos perdidos em décadas, em combater os déficits do comércio exterior.

Agora é fácil compreender. As propostas econômicas de Trump soaram como música nos ouvidos dos norte-americanos que sabem o que é desemprego e o que é trabalhar por salários baixos. A dívida pública do país hoje (19,8 trilhões de dólares) é maior do que o PIB do país em 2015 (17,9 trilhões de dólares) e é um quarto do PIB mundial em 2015 (73,2 trilhões de dólares). O país está preso num atoleiro. Na esperança de mudança, muitos eleitores fizeram vistas grossas aos defeitos pessoais do candidato.

Trump manteve a figura de empresário bem sucedido. Não procurou se enquadrar no figurino político para se tornar um político bem sucedido. Sua maneira inflamada de se mostrar e se expressar contrastava com os gestos e falas estudados do presidente Barack Obama e sua candidata Hillary Clinton. Muitos eleitores acabaram por votar no empresário que se expunha verdadeiro do que na candidata política que simulava virtudes. Em menor proporção, vimos isto acontecer recentemente no Brasil.

Aqui, nas eleições municipais recentes (02 e 30 de outubro de 2016), o eleitorado brasileiro desprestigiou os políticos com altos índices de abstenção e votos inválidos (brancos e nulos). Em duas capitais – São Paulo e Belo Horizonte – e em cidades do interior, candidatos não políticos venceram candidatos políticos bem conhecidos. Aqui, os brasileiros também desejam mudança. Desejam ter bons empregos. Desejam contar com sistemas eficientes de saúde, educação, transporte e saneamento.

No discurso da vitória, Trump disse que a "campanha longa e suja" havia passado e que ele governaria para todos. Tomara. Porque, se ele cumprir as promessas de campanha cheias de preconceito, intolerância, discriminação, protecionismo e desrespeito, haverá caos. Um caos maior, se ele não conseguir obter os avanços econômicos. Até poderá haver guerra. E tudo isso terá sido iniciado pelos políticos tradicionais. Pois é, as muitas vagas para políticos sérios e competentes continuam abertas. Lá e cá.

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