Dom Demétrio Valentini,
Bispo Emérito de Jales
Na semana passada, do dia 09 ao dia 13 deste mês de novembro, aconteceu o Quinto Congresso da Cáritas Brasileira. Foi realizado em Aparecida, no mesmo local onde a CNBB faz suas assembleias anuais.
A festa dos sessenta anos acabou. A Cáritas retoma sua caminhada, mais consciente de suas responsabilidades, pelas quais será cobrada.
Bispo Emérito de Jales
Na semana passada, do dia 09 ao dia 13 deste mês de novembro, aconteceu o Quinto Congresso da Cáritas Brasileira. Foi realizado em Aparecida, no mesmo local onde a CNBB faz suas assembleias anuais.
Pelo próprio local, e pelo número de participantes, aproximadamente 500, o Congresso revelava a singular vinculação que de fato existe entre a CNBB e a Cáritas Brasileira.
Desta vez, o Congresso tinha uma motivação especial. Tratava-se de celebrar os sessenta anos da Cáritas Brasileira. Todas as atividades realizadas tinham como pano de fundo, a caminhada da Cáritas, com a intenção de perceber com clareza sua identidade e a missão a ser assumida como organismo da Igreja, a serviço de sua ação social.
Este caráter claramente histórico, assumido pelo Congresso, permitiu recordar os tempos em que a Cáritas Brasileira foi fundada, em 1956. Esta data ensejou a oportunidade de recordar as motivações do surgimento da Cáritas no Brasil, e comparar as circunstâncias iniciais de sua caminhada com a situação atual que vivemos, com os novos desafios que se apresentam hoje, para a Igreja e para a Cáritas.
Tendo como referência a data de fundação, em 12 de novembro de 1956, e recordando outras datas daquela época, o Congresso pôde constatar que a Cáritas surgiu num momento muito otimista, ao menos para a Europa Ocidental e para os países do "terceiro mundo", como se dizia naquela época.
Basta conferir algumas datas, para evidenciar o clima de esperança, vivido nas duas décadas após a segunda guerra mundial. Em 1952 foi fundada a CNBB, iniciativa levada em frente por Dom Helder Câmara. Em 1955, por ocasião do 36º. Congresso Eucarístico Internacional, no Rio de Janeiro, foi realizada a primeira Conferência Geral do Episcopado Latino Americano, oportunidade em que foi criado o CELAM, outro organismo importante de articulação da ação da Igreja em nível continental. Neste contexto de fecundas iniciativas foi, então, criada a Cáritas Brasileira, também por iniciativa de Dom Helder.
Para concluir esta rápida recordação dos tempos de otimismo que permeavam a caminhada da Igreja, basta recordar que em 1958 foi eleito o Papa João 23, o qual em 1959 lançou a proposta de realizar um Concílio Ecumênico para atualizar a ação da Igreja nas novas circunstâncias que o mundo estava vivendo.
Dá para dizer que o Congresso, realizado em Aparecida na semana passada, reviveu o clima de otimismo que marcou a história da Cáritas. Mas este otimismo foi temperado por uma inquietação, que foi crescendo entre os agentes da Cáritas Brasileira, desde a sua Presidência, o seu Secretariado Nacional, os diversos Secretariados Regionais, os representantes das mais de 150 Cáritas Diocesanas. A realidade está agora envolta na espessa neblina da crise, que vai se aprofundado na realidade brasileira e mundial. Tanto mais a Igreja precisa contar com a contribuição da Cáritas. Em primeiro lugar, para interpelar as próprias dioceses, para que marquem presença na realidade concreta que as envolve. Para esta presença da Igreja na sociedade, a Cáritas é chamada em primeiro lugar a contribuir com a sua mística, expressa pelo nome que a caracteriza. E com sua metodologia de ação social, que prioriza o envolvimento dos destinatários, para que assumam eles mesmos o protagonismo de sua promoção social.
Sessenta anos simbolizam acúmulo de experiência e de maturidade. Como organismo da CNBB, e como parceira de outros movimentos sociais, a Cáritas é chamada a somar forças para que a cidadania brasileira retome sua articulação, indispensável para encontrar saídas verdadeiras para a superação da crise que vai se generalizando.
A festa dos sessenta anos acabou. A Cáritas retoma sua caminhada, mais consciente de suas responsabilidades, pelas quais será cobrada.
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