Unesp desenvolve fármaco para tratamento de doença de Chagas

Um novo fármaco está sendo desenvolvido pela Unesp para tratamento de doença de Chagas feito à base da planta medicinal cervejinha-do-campo (Arrabidaea brachypoda). Parte da pesquisa foi desenvolvida pela doutora Cláudia Quintino da Rocha, que realizou seus estudos no Instituto de Química da Unesp em Araraquara e no laboratório da Universidade de Genebra, na Suíça, com supervisão dos professores Jean-Luc Wolfender e Emerson Queiroz. Na Unesp, a pesquisa teve orientação de Wagner Vilegas, atualmente docente no Instituto de Biociências da Unesp, Câmpus do Litoral Paulista.

Em seu doutorado, Cláudia isolou uma molécula inédita da planta presente no cerrado brasileiro, e testou em modelos in vitro e in vivo. A molécula apresentou uma alta atividade contra o parasita Trypanosoma cruzi, responsável pela transmissão da doença. O estudo teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do CNPq.

"Ao olhar para essa planta, nas pastagens de Minas Gerais, as pessoas nem imaginam que ela pode ter um grande potencial terapêutico", ressalta Vilegas, especialista em Química de produtos naturais. "Trata-se de uma atividade promissora, mas ainda é necessário mais testes até que se chegue ao uso em humanos. São etapas longas, complicadas, custosas, mas que precisam ser feitas", avalia.

Um dado importante da pesquisa é que a substância não apresentou toxidade nas doses testadas. Atualmente, existem no mercado apenas dois medicamentos para tratamento da doença de Chagas: o nifurtmox e o benzonidazol. O primeiro, apresenta reduzido poder tripanocida (agente que mata o Trypanosoma), uma vez que é eliminado rapidamente no plasma e deve ser administrado continuamente. Ele apresenta inúmeros efeitos colaterais como náuseas, vômitos, dores estomacais, entre outros.

Já o benzonidazol não pode ser usado no tratamento pediátrico. Os pacientes que fazem uso deste medicamento apresentam reações adversas, semelhantes ao nifurtmox.

Professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Cláudia conta que os efeitos colaterais destes medicamentos são muito fortes, e, por isso, muitos pacientes precisam suspender o tratamento. "Cerca de 30 % dos infectados que não tratam a doença na fase aguda irão desenvolver a fase crônica da doença". Nesta última etapa, a doença se manifesta principalmente com problemas cardíacos, podendo ocorrer a morte súbita.

Além disto, 40% dos pacientes sentem os fortes efeitos colaterais, como dores de cabeça, fadiga, insuficiência renal, diarreia, enjôos e vômitos. "O uso da nova substância poderá tornar o tratamento da doença tão eficaz quanto os que já existem, porém sem efeitos colaterais", finaliza Cláudia.

O próximo passo da pesquisa será o de realizar outros ensaios in vivo, para garantir a segurança da molécula no tratamento. Em seguida, pretende-se desenvolver formulações farmacêuticas com ela para, então, se tornar um medicamento disponível no mercado. Um pedido de patente foi depositado no INPI sobre a descoberta e aplicação da nova molécula.

Vilegas lembra que as doenças crônicas são responsáveis por cerca de 40% de enfermidades na população adulta brasileira, segundo dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo IBGE em 2013.

De acordo com ele, o Brasil tem uma biodiversidade enorme mas ainda pouco explorada. "Meu objetivo, como pesquisador, é tentar buscar na natureza outras alternativas para as doenças crônicas que sejam mais viáveis, menos tóxicas, mais baratas, e que estejam à disposição da população". (por Maristela Garmes).

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