Diálogo

Reginaldo Villazón

Tempos atrás, o governo paulista e a prefeitura de um município distante da capital – visando beneficiar a pequena cidade com uma obra importante para a população – decidiram pela construção de um centro comunitário. Mal informada sobre o assunto, a população da cidade viu chegar homens, equipamentos e materiais de construção. Assistiu, de longe, erguer-se o prédio num terreno encostado à cidade. Depois de pronto, o centro comunitário nunca foi assumido e utilizado pela população.

No fim do ano passado, o governo paulista anunciou uma reorganização da rede estadual de ensino. A finalidade era fazer cada escola prestar somente um dos três ciclos da educação (ensino fundamental I, ensino fundamental II e ensino fundamental médio). Das 5.147 escolas estaduais, 1.464 estariam envolvidas na reorganização e 93 seriam desativadas. As mudanças de escola afetariam 311 mil alunos e 74 mil professores. Resultado: mais de 200 escolas do estado foram ocupadas em protesto pelos estudantes.

Os dois casos citados – mal sucedidos – possuem um ponto comum: a ausência de diálogo entre governantes e sociedade. O centro comunitário foi reconhecido pela população como um corpo estranho na comunidade e por isto virou ruínas. A ocupação das escolas estaduais, pelos estudantes em protesto declarado contra a reorganização do ensino, ganhou apoio de pais e mães, e a legitimidade da justiça. O governo estadual fez falsas promessas de diálogo, mas acabou tendo que desistir da tal reorganização.

Outro exemplo dessa ausência de diálogo é a insatisfação popular que gera manifestações de rua – especialmente nas capitais – sempre que as tarifas dos transportes públicos são reajustadas. Os governantes fingem que ouvem os clamores das ruas e justificam as novas tarifas com explicações legais. Os manifestantes querem saber sobre subsídios pagos aos empresários de transporte, sobre a aplicação dos recursos (tarifas, subsídios e impostos) em favor do transporte público. Mas nada se resolve.

Historicamente, governantes – que fizeram uso da sua capacidade de conversação com o povo e dos recursos de comunicação existentes – obtiveram a adesão dos cidadãos para enfrentar com êxito grandes desafios. Hoje, o cenário geral analisado por instituições de pesquisa revela a presença de entraves difíceis à redução das desigualdades, à destruição ambiental e ao desenvolvimento. Os governantes precisam mobilizar forças sociais para construir uma sociedade forte para superar os entraves.

A dois meses da posse dos novos dirigentes municipais – prefeitos e vereadores – a esperança de que eles mantenham um diálogo produtivo com as comunidades nos próximos quatro anos não é animadora. A tradição dos políticos é ruim e a realidade atual inspira contatos humanos superficiais. Sem diálogo verdadeiro, não há como criar soluções verdadeiras. Boa parte das crises institucionais se deve à ausência de diálogo. Este é um ponto essencial a ser observado pelos cidadãos nos seus dirigentes.

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