A Psicanálise e a Missão do Educador

Flávio Rodrigo Masson Carvalho
Professor do UNIBAVE – Orleans - SC
 
O educador e psicanalista Hans Zulliger, em um de seus livros As crianças difíceis, de 1946, conta-nos que obteve bons resultados na aplicação da psicanálise em crianças de 12 ou 13 anos dentro do sistema público oficial. Ele fazia uso do diagnóstico que encontrava para prescrever medidas a serem tomadas pela escola.
O inconsciente na educação tem sido muito pouco estudado. Ele tem sido fundamentalmente abordado através da clínica psicanalítica.
A psicanálise não deve medicalizar a educação. A psicanálise deve contribuir para com a educação e a psicopedagogia.
Para Lacan não se trata apenas de um querer saber ou ter vontade de saber. Mas do desejo de saber tecer a partir do sujeito superar o seu próprio horror de saber, que atua paralisando-o, fazendo com que ele não queira saber algo que realmente necessite saber.
Segundo Lacan, o processo de constituição do sujeito vai depender das condições que o outro lhe der. Estas condições são tecidas através da linguagem e da fala. Com este dizer de Lacan, podemos significar a importância do Professor no processo ensino-aprendizagem, e na formação do aluno.
Defendeu Freud em 1914, que somente o desejo coloca em funcionamento o aparelho mental. E com este pensamento, eu pergunto: Qual o tamanho do desejo do professor para ensinar?
E contribui Lacan ao dizer: "Não há ensino se o sujeito não colocar algo de si".
A Psicanalise Humanista, pode ajudar o professor e o aluno a melhor entender a alma humana, e seu desenvolvimento pessoal e emocional.
O educador tem que infundir na alma infantil! Tarefa difícil, pois não compreendemos nossa própria infância.
O educador deve considerar o meio, a sociedade e a civilização. E aprender a lidar com o não-saber e o excessivo-saber.
Os professores não suportam os conteúdos trazidos pelos alunos. Tem que estar também aberto para aprender com os alunos, pois a educação é via de duas mãos, ensina-se, mas também aprende-se. As vezes aprendemos mais com os alunos, do que ensinamos.
O educador tem que considerar nas crianças quando chegam na escola, suas bagagens, seus laços sociais e seus conteúdos emocionais.
A Psicanálise pode ajudar o professor a lidar com o seu EU interior e a sociedade. Pode ajudar o professor a diferenciar o seu EU e o EU da criança. E Pode ajudar, principalmente, como reagir perante as suas emoções.
Segundo Melaine Klein o professor, muitas vezes, tem que resgatar o amor que criança não teve. E neste momento a psicanálise Humanista pode ajudar.
O professor tem que estar muito atento a todas as ações da criança, pois sempre que age, ela não faz ao acaso, ela a todo instante apresenta formas de gozar que aprendeu em sua família. E não é possível conceber a educação se o professor não se integrar a família do aluno, e como defende Klein, muitas vezes assumindo o lugar dos pais desta criança.
Enquanto educadores, precisamos desfazer nossos próprios preconceitos teóricos. O professor será o depositário de algo que pertence ao aluno.
O desejo inconsciente do professor, o impulsiona a função de mestre, e não devemos nos esquecer que não temos controle total do que dizemos.
O professor é dotado de um PODER, e a todo instante tem vontade de abusar dele, é um desejo inconsciente, e muito forte.
Professor deve renunciar o poder que o aluno lhe dá no início de uma relação pedagógica, e é um mister se livrar da culpa e da impotência.
A transmissão de conhecimentos pode criar efeitos no inconsciente do outro. O professor, se perder o controle desta transmissão não saberá jamais o caminho que o aluno tomará. E os alunos não conhecerão jamais as repercussões inconscientes de sua presença e de seus ensinamentos.
O professor não deve esquecer jamais que o desejo de cada um de nós é diferente. Ele vai lidar com muitos alunos que NÃO terão o desejo de aprender. E que o professor tenha muito desejo de ensinar.
É muito dura a missão de ensinar o aluno a matar o mestre e se tornar mestre de si mesmo.
Somente com muito AMOR o educador conseguirá cumprir sua missão. E o mais eficaz exercício para desenvolver este AMOR, é o de ESCUTAR o aluno, e ESCUTAR a sua CRIANÇA INTERIOR.
E como bem disse Freud: "A CRIANÇA É O PAI DO HOMEM".
 
Referência Bibliográfica:
CARVALHO, Flávio Rodrigo Masson. Psicanálise e Psicopedagogia: Contribuições da Psicanálise à Psicopedagogia. Editora Moderna. Jales, 2010.
 

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