Indígenas e missão humanitária

Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales

A Igreja no Brasil está fazendo jus à sua identidade missionária, enfatizada nas suas atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, ao implementar projetos missionários frente a graves desafios, entre os quais a dramática situação dos indígenas, em particular no Estado de Mato Grosso do Sul.

A população indígena desse Estado é a segunda maior do país, sendo atualmente mais de 70 mil pessoas. A taxa de assassinatos de indígenas chega a cem por cem mil habitantes, quatro vezes maior que a média nacional. O número de suicídios tornou-se altíssimo. A taxa de mortalidade infantil no Brasil, em média 25 por mil, na etnia Guarani-Kaiowá, do sul do Estado é de 38 por mil.

Muitas Dioceses do Brasil estão engajadas em projetos missionários humanitários com indígenas, entre as quais a de Jales. Um seminarista desta Diocese, o jovem médico, Washington Henrique, descreve sua recente experiência em um desses projetos, realizado conjuntamente pela Pastoral Universitária da Diocese e a Organização Não Governamental Univida, de Santa Fé do Sul-SP.

"Durante seis dias, aproximadamente 220 voluntários, universitários e profissionais, das mais diversas áreas estiveram na Reserva Indígena de Dourados-MS realizando um trabalho filantrópico. A defesa da vida através do cuidado com a saúde foi feita através de ações de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação, contando com a participação de estudantes de medicina, odontologia, fonoaudiologia, psicologia e fisioterapia, com seus respectivos profissionais responsáveis.

A atenção à saúde indígena é regulamentada pela Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas que integra a Política Nacional de Saúde, harmonizando as determinações das Leis Orgânicas com as da Constituição Federal, que asseguram aos povos indígenas suas especificidades e seus direitos.

A convivência com a população indígena durante esses dias, pode certificar os dados encontrados na literatura, que apesar de precários, indicam taxa de morbidade e mortalidade superior à encontrada na população brasileira em geral. Quanto à morbidade pode-se observar alta incidência de infecções respiratórias e gastrointestinais agudas, tuberculose, parasitoses intestinais, desnutrição e doenças preveníveis por vacina. Agravos esses que encontram na deficiência ou até mesmo na ausência de saneamento básico (água sem tratamento ideal, falta de tratamento de esgoto e resíduos sólidos), nas moradias de lona e bambu e na falta de acessibilidade aos centros de saúde, condições ideais para a sua propagação e disseminação.

Outro dado observado é a alta incidência de mães adolescentes sendo que em sua maioria aos 14 anos já são casadas e aos 15 são mães. Como a taxa de mortalidade é elevada, existem poucos idosos, favorecendo a perda das tradições.

Esta realidade precária urge por ações sistemáticas e continuadas, entre elas na área de atenção básica à saúde, sendo essencial a aplicação dos princípios e diretrizes propostos desde a origem do Sistema Único de Saúde: universalidade, descentralização, equidade, participação popular e controle social; devendo ser implantados respeitando as considerações específicas culturais, epidemiológicas e operacionais desses povos que apesar de tantas adversidades e dificuldades em terem acesso aquilo que é direito deles, não perdem a alegria de viver."

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