Ciência no combate à fome

Junji Abe
 
Muita gente que assistiu ao reality show culinário MasterChef Brasil ficou surpresa com o desafio de preparar pratos usando plantas que vê como mato. Taioba, serralha, ora-pro-nóbis, araruta, vinagreira, mangarito, jacatupé, peixinho, azedinha, lírio do brejo, hibisco e tiririca entre outras, são alimentos nutritivos e até medicinais. Em 2050, o mundo terá 9,5 bilhões de moradores, o que demanda aumento de 60% na produção de alimentos. Ciência e vontade política, livres de preconceitos, precisam caminhar juntas para evitar que a humanidade sucumba por falta de comida.
O atendimento à demanda depende de elevar a produção, sem ferir a sustentabilidade do planeta. No caso do trigo, o Brasil alcança, no máximo, metade da produtividade por hectare obtida nos EUA. As hortaliças e frutas, imprescindíveis na dieta saudável, merecem atenção. Daí a importância de cinturões verdes como o de Mogi das Cruzes.
Otimizar a produção de alimentos requer esforço interdisciplinar e multidisciplinar, envolvendo, entre tantas iniciativas, fortes investimentos em pesquisas e uso de altíssima tecnologia também para recuperar áreas degradadas. Ocorre que as maiores instituições brasileiras de pesquisa agonizam por descaso dos governantes que só investem em iniciativas com retorno visível durante seus mandatos.      
Também é preciso reduzir as perdas no trajeto entre o produtor e o consumidor, que alcançam 30%, no caso de hortifrútis. Outro gargalo imenso reside na comercialização, ainda ancorada num retrocesso imperdoável. As Ceasas viraram quase proibitivas para quem cultiva itens perecíveis, por causa das proibições de tráfego de caminhões.
O Brasil também carece de sintonia entre pesquisa, assistência técnica e extensão rural.  Mas, não é só. É preciso privilegiar ferrovias em vez de rodovias, boas estradas rurais, financiamentos acessíveis, seguro rural bom para o produtor (não para bancos), eletrificação, telefonia e acesso à internet, além de reduzir a tributação sobre propriedade, insumos e produção. São medidas fundamentais para aumentar a produtividade, baixar preços, elevar a qualidade e a oferta de alimentos.
Tenho orgulho de ser produtor e líder rural. Luto junto aos políticos desinformados para que enxerguem o campo, além dos votos das cidades. Se a atividade produtora de alimentos, principalmente os hortifrutigranjeiros – onde se concentram os pequenos produtores –, não receber a merecida atenção, a população será sacrificada. Sem querer ser o mensageiro do apocalipse, digo que haverá conflitos muito mais agudos do que os do Oriente Médio. Aparentemente, pela guerra. Porém, numa reflexão mais profunda, por fome.
Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

Comentários