Dispositivo da UFSCar promete diagnóstico rápido de doenças

 
Um sistema microfluídico se caracteriza pelo escoamento de fluidos em canais de dimensões pequenas, no qual eletrodos podem ser utilizados como sensores químicos ou biossensores individuais, para a detecção de diferentes compostos, como proteínas, anticorpos, DNA ou compostos orgânicos e inorgânicos, e na detecção de biomarcadores visando o diagnóstico de doenças como o câncer. Pensando nessa aplicação, os pesquisadores Ronaldo Censi Faria, Carolina Venturini Uliana e André Santiago Afonso, do Departamento de Química da UFSCar, desenvolveram a patente Dispositivo microfluídico e método de fabricação de dispositivo microfluídico.

A invenção se refere a um dispositivo com materiais poliméricos e eletrodos que podem ter suas superfícies modificadas com o intuito de obter uma plataforma para o reconhecimento de diferentes analitos em uma amostra. Este dispositivo pode ser aplicado no desenvolvimento de metodologias para determinação de compostos de interesse ambiental, farmacêutico e biológico.

Dentre as principais vantagens da patente estão o emprego de materiais e equipamentos de baixo custo, a facilidade de uso, o baixo consumo de reagentes, a portabilidade e descartabilidade. Além disso, o dispositivo permite a modificação química da superfície dos eletrodos antes do fechamento do dispositivo microfluídico sem a necessidade de etapas de aquecimento ou com adesivos que envolvam a liberação de solventes. Isso é importante para a construção de biossensores que utilizam material biológico, como enzimas e anticorpos, e que podem desnaturar com calor ou com solventes, tornando-os inativos.

Levando cerca de dois anos para ser desenvolvida, a ideia da patente surgiu durante o pós-doutorado de Ronaldo Censi Faria, somada a um desejo dos pesquisadores de produzir sistemas com eletrodos descartáveis com custos mais acessíveis do que os disponíveis no mercado, que são, em sua grande maioria, importados. Essas características limitam as pesquisas científicas na área de sensores, biossensores e em eletroquímica em geral, além da necessidade de pessoal qualificado para a operação. Foi assim que eles perceberam que poderiam utilizar moldes de baixo custo para a aplicação da tinta condutora e, a partir da construção dos eletrodos descartáveis, partiram para a construção do dispositivo microfluídico.

Outros produtos semelhantes utilizam materiais curáveis que necessitam de diferentes etapas para aumentar a adesão entre os substratos, resultando em construção de alta complexidade. Alguns utilizam materiais de baixo custo, mas têm sua fabricação baseada no uso de materiais rígidos na moldagem de microcanais, o que atribui fragilidade ao dispositivo. Além disso, em grande parte dos dispositivos microfluídicos semelhantes, somente o arranjo de sensores costuma ser descartável, exigindo etapas repetitivas de desmontagem, limpeza e remontagem, o que aumenta o tempo de análise e risco de falsos resultados.

De acordo com uma das inventoras, Carolina Venturini Uliana, o dispositivo ainda não está disponível no mercado, mas já há interesse da comunidade científica. "Por possibilitar o diagnóstico rápido de uma determinada doença, sua comercialização é interessante para aplicações em laboratórios de análises clínicas, hospitais, dentre outros".

Por essa razão, os pesquisadores estão buscando parcerias e interessados na produção e comercialização da patente. O dispositivo também está sendo estudado para detecção de outros biomarcadores como, por exemplo, para o câncer de mama e Doença de Alzheimer, além de outros analitos, como patógenos de cultivos de citros. "Atualmente, estamos em parceria com o Hospital do Câncer de Barretos com o qual pretendemos ampliar o número de diagnósticos possíveis", finalizou Carolina.

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