Aridez cultural

Reginaldo Villazón
Na época do descobrimento do Brasil, os navegantes portugueses observaram que a nova terra era ocupada por muitos nativos (que eles denominaram "índios"), grande número de espécies animais e matas a perder de vista. O objetivo dos portugueses era claro: tomar posse, colonizar e explorar. Esse processo – que terminava em exploração – foi péssimo para os índios, os animais e as matas. A maior cobiça caiu sobre o pau-brasil, abundante na mata litorânea, de onde foi intensamente extraído e remetido à Europa.

A exploração do pau-brasil se estendeu pelos 300 anos do período colonial, constituindo o primeiro ciclo econômico brasileiro, o ciclo do pau-brasil. Isto quase levou a espécie vegetal à extinção. Nesse período, outras árvores – como jacarandá, vinhático e sapucaia – também foram abatidas e enviadas à Europa. Assim, o desmatamento das matas brasileiras começou junto com a história do Brasil. Naquele tempo, Portugal e Espanha competiam na expansão de suas colônias e na política econômica do mercantilismo.

Outros ciclos econômicos se seguiram. Da cana-de-açúcar, do couro, da mineração, do algodão, do café, da borracha. Sempre por motivação econômica, o desmatamento não respeitava limites e tinha significado de progresso. Com ele, obtinham-se madeiras e abriam-se novas áreas de terras para uso em agricultura e pecuária. Terras boas, mas ocupadas por matas e bichos, eram consideradas terras não beneficiadas. Os índios, únicos a enxergarem a insensatez, sofriam a destruição dos seus povos.

Hoje temos apenas 12,5% da Mata Atlântica, uma natureza das mais ricas do mundo em biodiversidade, que originalmente se estendia por 17 estados brasileiros. E sabemos que ainda existe gente disposta a prejudicá-la. A grande Floresta Amazônica, com 60% da sua área situada dentro do Brasil, sofre desmatamento ilegal sistemático sem esperança de solução. Passando o foco para as áreas urbanas, o IBGE levantou em 2010 que existe um déficit de 15 milhões de árvores nas cidades brasileiras.

As conseqüências do desmatamento no campo são bem conhecidas. Além da perda imediata dos recursos naturais renováveis e da biodiversidade, o impacto ambiental avaria as terras, as águas e o clima. Nas cidades, a redução do número de árvores motiva queda na qualidade de vida e na saúde da população, inclusive dos animais domésticos e da fauna urbana. No sentido contrário, aumenta o nível das aspirações populares em desfrutar a prosperidade de um país bem organizado e bem cuidado.

Mas é fácil ver que o povo brasileiro ainda tem a péssima herança cultural de não ter amor às árvores. Não adianta culpar apenas os governantes. Por qualquer motivo ou interesse imediato, o povo brasileiro sacrifica árvores. Não leva em conta que as árvores renovam o ar, retendo carbono e liberando oxigênio, refrescam o ar, atenuam os ruídos, oferecem sombra, alimentam e abrigam os pássaros, fornecem produtos necessários à vida e à saúde. Pouco importa ao povo brasileiro que as árvores sejam belas e puras.

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