Opinião - Trapalhadas da SEE causam prejuízos a docentes e salas de leitura

Carlos Giannazi

A atual administração da Secretaria de Educação parece estar perdida entre a falta de um projeto educacional e as ordens do governo para reduzir despesas a qualquer custo.

Não satisfeitos com a bagunça causada na vida de muitos agentes de organização escolar, obrigando-os a escolherem locais de trabalho pelos quais não optaram, os burocratas, desta vez, apontaram sua artilharia de incompetência e desorganização para os professores categoria F e O e para os readaptados, covardia administrativa com educadores de vínculos e condições de trabalho mais frágeis. E, de quebra, mais uma vez atingiram as salas de leitura, ambiente que não consegue se firmar no currículo escolar em razão da concepção equivocada dos burocratas da pasta: o espaço curricular que deveria ter destaque no cenário educativo é visto pela burocracia como local para abrigar professores com poucas aulas e depósito para alunos em aulas vagas.

Apesar das dificuldades impostas pela pauperização das condições de trabalho, os professores de categoria F e os readaptados vinham tocando o seu trabalho nas salas de leitura baseados em atribuições feitas conforme duas resoluções (70/2011 e 14/2016) da secretaria.

No entanto, neste quase final de junho, talvez animados pelo excesso de festas juninas e com a garganta apertada pelo governo para reduzirem despesas, os burocratas da Coordenadoria Geral de Recursos Humanos (CGRH) soltaram um "boletim", com o pomposo nome de Boletim Informativo, sob o desconfiado número 13, em que obrigavam: a) os professores da categoria F, regentes de trabalho em sala de leitura conforme atribuição orientada pela Resolução SEE 14/2016, a deixarem o posto e escolherem aulas vagas ou disponíveis regidas pelos docentes da categoria O; b) o gestor escolar a atribuir os trabalhos docentes na sala de leitura aos professores readaptados.

As consequências desse desastre administrativo foram imediatas: professores sem aula, tendo que se deslocar para outras escolas, outras diretorias e até outros municípios para recompor sua jornada docente e um festival de imposições nas escolas, com a equivocada interpretação de que esse espaço deveria ser preenchido por docentes readaptados, independentemente do seu laudo médico e do rol de atividades que limita sua atuação na escola.

É possível imaginar, para quem conhece minimamente a dinâmica de uma escola e de uma rede de ensino, o transtorno que isso causou, o desconforto, a desumanidade e o desrespeito ao entendimento do que é uma sala de leitura. Não foi sem razão que, alegando terem ouvido sugestões das diretorias de ensino (surpresa, pois estes órgãos nunca se posicionam e apenas cumprem ordens superiores), suspenderam a desastrosa operação de desmanche e imposição de prejuízos à saúde profissional e emocional de centenas de docentes e à saúde curricular das salas de leitura.

Algumas perguntas ficam no ar, depois de tantas idas e vindas: até quando a burocracia da SEE vai continuar se achando no direito de pôr e dispor sobre a vida profissional dos docentes? Até quando a máquina burocrática paquidérmica continuará legislando sem ouvir os interessados e sem efetivar o diálogo entre os órgãos de sua estrutura, atropelando resoluções por meros boletins? Até quando a burocracia da SEE vai continuar insistindo em desconhecer uma concepção mais atual de sala de leitura, voltada para a mediação da leitura e para a escolha do mediador com base no seu perfil e não no vínculo profissional?

Docentes, educadores, gestores, educandos, comunidade... Ninguém aguenta mais tamanha falta de sensibilidade, de planejamento e de mesquinharia administrativa.

Com a palavra o secretário estadual de Educação.

*Carlos Giannazi é deputado estadual pelo PSOL e membro titular da
Comissão de Educação e Cultura.

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