Tribalismo

Reginaldo Villazón

 
Imaginemos uma população nativa, vivendo num pequeno país, mas dividida em tribos. Esta composição social não é fora da realidade. Existe desde os tempos antigos. Nela, há períodos de convivência pacífica entre as tribos. Mas há períodos em que a disputa por espaço, água, caça e pesca gera ódios e agressões. Cada tribo tem seus líderes, que invocam razões sempre favoráveis ao seu grupo. Por vezes, o objetivo dos líderes é conquistar o poder sobre as demais tribos. Dessa forma simples, podemos entender a cultura tribal.

A humanidade se formou dos povos que ocuparam os continentes e as terras isoladas nos oceanos. Os bárbaros na Europa, os indígenas nas Américas, os polinésios nas ilhas do Oceano Pacífico são exemplos bem conhecidos de povos tribais. Efetivamente, a cultura tribal persiste forte até hoje. Nos noticiários sobre o Oriente Médio, ficamos sabendo que os muçulmanos (praticantes do islamismo) se dividem em duas tribos – sunitas e xiitas – que não se entendem. E que o Estado de Israel se conduz como uma nação tribal.

Os maiores impérios, como o Império Macedônico, liderado por Alexandre Magno (356 a.C. – 323 a.C.), tiveram suas bases na cultura tribal. Na história recente, o maior caso de tribalismo foi o da Alemanha Nazista sob o comando de Adolf Hitler (1889 – 1945). O objetivo foi submeter todo o mundo a um único povo ("uma raça superior geneticamente pura"). Assim, os alemães nazistas causaram a Segunda Guerra Mundial. Hoje, sem engano, as rédeas da economia mundial estão nas mãos de uma refinada elite tribal.

Observando o nosso país, o tribalismo se revela além do futebol. No âmbito da crise política que abala o país – com péssimos reflexos econômicos e sociais – vemos o tribalismo prevalecer com intensidade. Nos debates, as opiniões dos políticos, juristas, economistas, jornalistas e figuras da mídia atropelam as leis, a democracia, a unidade nacional. Divergências absurdas acontecem de acordo com o interesse dos grupos confrontadores. Os representantes eleitos pelo povo fazem dos partidos políticos suas tribos.

Não é mais possível acreditar em leis, justiça, democracia, ética e instituições públicas. Os defensores da situação falam em golpe, mas não tomam providências como manda a lei. Os opositores se mostram despreparados e não oferecem alternativas ao povo. Em cada fase da Operação Lava Jato, mais parlamentares são citados como corruptos. Enquanto isso, as notícias ruins sobre o desempenho da economia e as más consequências socioeconômicas não param de chegar, causando indignação e apreensão.

A televisão mostra as sessões do plenário da Câmara Federal, nas quais os deputados consomem tempo e dinheiro em discussões impregnadas de partidarismo. Um cenário caduco e inútil. Lembra os velhos pregões das bolsas de valores. Em 2004, a Bovespa – a bolsa paulista – teve 90% dos seus contratos negociados no salão, onde os operadores compravam e vendiam aos gritos. A Bovespa tinha quase mil operadores nessa situação. Mas evoluiu e cresceu. Hoje tem menos de cem desses operadores. Tudo tem que mudar para melhor.

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