Fuga das salas de aula


Luiz Gonzaga Bertelli*
 
Um dos maiores intelectuais e pensadores romanos, Sêneca dizia, no início da era cristã, que a educação exige os maiores cuidados, pois influi sobre toda a vida. Passados dois mil anos, a frase continua atual, mas a ideologia ainda é desrespeitada. A educação vem sofrendo, nos últimos anos, cortes de recursos, em razão da crise econômica, o que compromete o futuro do país. Uma grande parcela da juventude vem se afastando de cursos superiores pela dificuldade de acompanhar as aulas – como consequência da má formação no ensino básico, ou mesmo por não ter condições de arcar com as pesadas mensalidades do ensino privado, motivados pelos crescentes índices de desemprego entre os jovens.
Segundo o Censo da Educação Superior, relativo a 2014, o número de universitários que abandonam seus cursos tem superado o total que conclui a graduação. Naquele ano, formaram-se no país um milhão de pessoas. No entanto, 1,2 milhão de alunos trancou a matrícula, incluindo estudantes dos ensinos presenciais e à distância. A situação é mais grave nas universidades particulares: as interrupções no curso representam 86% do total.
Esse adiamento na qualificação da juventude traz um impacto negativo para o mercado de trabalho, que exige, cada vez mais, jovens capacitados. Com isso, sem formação adequada, eles encontram mais dificuldades para se engajarem no mundo corporativo. Os prejuízos são grandes. Tanto para os jovens e suas famílias, quanto para o desenvolvimento do país.
A tendência não é nada animadora. As faculdades privadas devem amargar pelo menos mais dois anos de queda no número de novos alunos.  No ano passado, o Brasil teve 2 milhões de novas matrículas, uma redução de 12% em relação a 2014.  Só no estado de São Paulo serão 207 mil estudantes a menos em 2015 e 2016, de acordo com cálculos do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior este ano. A principal causa teria sido a redução do número de vagas do Fies, sistema de financiamento estudantil do governo federal.
Uma das formas de se capacitar para o mercado de trabalho com fonte de renda, que auxilia no pagamento das mensalidades escolares, é o estágio (para quem está cursando ensino médio, técnico ou superior e tem 16 anos ou mais) ou a aprendizagem (para quem possui entre 14 a 24 anos, cursando os ensinos fundamental, médio ou concluído o ensino médio). O CIEE, que há 52 anos tem como principal objetivo qualificar e inserir jovens no mercado de trabalho por meio da capitação prática, está aberto para os jovens que queiram se especializar sob a égide desses programas. Assim, eles garantem uma melhor formação profissional, renda para não interromper os estudos, além da oportunidade de ser efetivado no final do contrato.
 
*Luiz Gonzaga Bertelli é presidente do Conselho de Administração do CIEE, do Conselho Diretor do CIEE Nacional e da Academia Paulista de História (APH).

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