Tributos: lutar ou morrer

Jacir J. Venturi

"Os impostos têm limites naturais, além dos quais uma nação se deita para morrer ou se levanta para lutar" – oportunas palavras do filósofo e historiador francês Joseph E. Renan. No Brasil, a carga tributária saltou de 21% para 35,4% do PIB desde 1985, início do mandato de Sarney. O consultor americano Walt Rostow complementa bem essa ideia, ao destacar que "só não podemos escapar da morte e dos impostos. E só a primeira não dá para piorar".

Trabalhamos 5 meses por ano para cumprir as obrigações tributárias, o que representa quase o dobro em relação à década de 70. A indignação fica ainda maior ao serem somados cerca de dois meses se contratarmos serviços privados nas áreas de saúde, previdência, segurança e rodovias. Assim, trabalhamos 7 meses para suprir as legítimas necessidades do Estado, suportando a ineficiência, a corrupção e a burocracia desse mesmo Leviatã. Só com os denominados tributos invisíveis – e cito apenas quatro –, o dispêndio anual dos contribuintes é insólito: planos de saúde (R$ 180 bi), educação particular (R$ 60 bi), segurança privada (R$ 40 bi) e, desde 1996, a não correção das alíquotas do Imposto de Renda (R$ 35 bi).

Via de regra, no planeta Terra não se aplica tributo algum sobre a escola privada, pois entende-se que está desonerando o Estado. No Brasil, ao contrário, o pai é triplamente penalizado ao não conseguir escolas públicas de qualidade. Se matricular o filho numa escola particular, um terço do boleto será destinado ao fisco na forma de tributos, sem os quais, uma mensalidade de R$ 1.000,00 poderia ser reduzida a R$ 666,00, com a mesma qualidade de ensino. Neste sentido, um belo exemplo é o Prouni, no qual a renúncia fiscal do governo permitiu, nos últimos 10 anos, o ingresso de 1,3 milhão de universitários na rede privada com um quinto do custo por aluno em comparação ao das Universidades Federais.

O Brasil tem imensas carências sociais e minorá-las se faz necessário, mas há países de menor carga tributária em relação ao PIB e que oferecem à população serviços públicos mais eficientes. No que tange aos gastos, enquanto o atual governo faz uma suave lipoaspiração, o empresário e o trabalhador cortam na carne. É urgente uma reforma estrutural, pois a nossa dívida pública equivale a 64,6% do PIB –, colocando o país sob o risco de insolvência. Era 51% em 2012. Com um rombo de R$ 115 bi, o Tesouro Nacional fechou 2015 como o pior ano da história.

Um levantamento do Ministério do Planejamento – a pedido de um deputado – mostra o exagero dos cargos de confiança (que independem de concurso público): Brasil, 23 mil; EUA, 8 mil; França, 4 mil; Chile, 600; Alemanha, 500; Inglaterra, 300.

E o que dizer dos 34 ministérios de Dilma? Mal. Deodoro tinha 8; Getúlio, 11; Figueiredo, 15; FHC, 21. E vale uma comparação: EUA, 22; Chile, 22; Reino Unido, 18; Alemanha, 16. E a Previdência? Uma bomba-relógio, com um déficit previsto de R$ 125 bi para 2016, e nenhuma proposta para conter esse rombo.

E para concluir, estamos vivenciando uma das fases mais graves da história do país, com a imbricação e a superposição de três crises simultâneas: política, econômica e ética. O Governo e o Congresso têm o dever cívico e moral de oferecer uma alternativa de solução. Austeridade fiscal: eis a receita imprescindível, porém amarga.

Jacir J. Venturi, é vice-presidente da ACP (Associação Comercial do Paraná), presidente do Sinepe/PR (Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Paraná), Coordenador da Universidade Positivo. Foi professor da UFPR e PUCPR.

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