Rotinas

por Reginaldo Villazón

 
As rotinas existem e são necessárias na vida das pessoas e organizações. Sem as rotinas, todos os dias seriam iniciados sem previsão e compromissos. Resultariam em caos. As rotinas permitem organizar as providências de necessidade pessoal, familiar, profissional e assim por diante. Facilitam cumprir prazos e quitar obrigações. Ajudam a desenvolver a disciplina. Mas, por outro lado, as rotinas inalteradas por muito tempo sustentam hábitos invariáveis, reações automáticas, pensamentos repetitivos.

As rotinas inalteradas não geram fixações mentais – muito comuns, vulgarmente chamadas "grilos" – que surgem, alcançam intensidades variadas, desaparecem e dão lugar a outras. Mas contribuem para que as fixações mentais perturbem as pessoas, muitas vezes a ponto de produzir confusões entre o pensamento e a realidade. Isto não ter nada a ver com casos patológicos de alucinação. Porém, essas fixações interferem negativamente na convivência social, no desempenho pessoal e na busca de novas perspectivas de vida.

A solução apontada pelos estudiosos não é a eliminação das rotinas, mas mudanças periódicas das rotinas. Para quem deseja melhorar sua vida e tenta sem sucesso ganhar na loteria, há boas notícias. As mudanças das rotinas transformam vidas e podem ser feitas através de três passos modestos. O primeiro: desapegar de tudo o que é desnecessário em casa. Livrar-se das coisas utilizadas propicia renovação. O segundo: criar dentro de casa um ambiente alegre, arejado e aromatizado. A leveza do ambiente purifica as energias.

O terceiro passo é dedicar-se a uma atividade livre, por conta própria, sem finalidade econômica, com repercussão social. Isso parece tolice, mas não é. Acontece no mundo todo. O caso do agricultor aposentado Deócles Gomes Machado, de Ituiutaba (MG), é exemplar. Ao ficar viúvo, aos 85 anos, passou a cultivar verduras, legumes e frutas em terrenos baldios (cedidos pelos proprietários) e entregar os produtos a creches e abrigos. Ajudou a alimentar muitas pessoas por mais de vinte anos. Faleceu aos 105 anos por causas naturais.

Há muitas opções para escolher uma atividade interessante e exercê-la por vontade própria, em lugar e tempo convenientes, sem as normas do mercado, sem as rotinas impostas por decisões alheias. É fundamental usar a criatividade, evoluir no que faz e contribuir para o bem social e da natureza. Bons exemplos se multiplicam. Os médicos afirmam: as pessoas que se dedicam a tais atividades são mais saudáveis e vivem mais tempo. Assim, não é preciso ganhar na loteria, não é preciso concretizar grandes sonhos.

Há pessoas que acreditam que a vida vai melhorar por ordem de Deus e deliberação dos políticos. Para elas, não existe nada a fazer, senão esperar. E para elas, a notícia não é boa. Deixar-se levar pelas rotinas inalteradas é viver na inércia, na estagnação, na viciação. A fé e a esperança devem ser usadas para motivar comportamentos e ações sempre melhores. Se a vida corrida destes tempos nos aprisiona em rotinas inalteradas, há uma ótima compensação. Nunca houve tantas oportunidades encantadoras de quebrar essas rotinas.

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