Reginaldo Villazón
Se o circo pega fogo (sem mortos e feridos) e tem gente disposta a cooperar, é véspera de alegrias. Uma crise pode abrir caminho para melhorias. O "impeachment" da presidente Dilma Rousseff pode não ter importância. A cassação do deputado Eduardo Cunha, idem. Importante é que a crise política crie a necessidade e a vontade de mudanças. O Brasil não dá mostras de que vai permanecer emperrado. Os brasileiros não podem apostar que vai acontecer nada. Nós devemos, isto sim, continuar atentos no tempo novo que virá.
Faz parte da natureza humana viver intensamente a época atual – como que, eternizando o presente –, fazendo de conta que o futuro não será tão diferente. Por mais que tenhamos bebido das fontes da história universal e saibamos que a sociedade humana não cessou sua evolução, não estamos prontos para reconhecer – na prática – que temos um tempo limitado neste mundo, que nossa geração está em vias de virar memória e que as gerações futuras assumirão suas atribuições dentro de realidades muito diferentes.
Os generais alemães sob o comando de Hitler, que promoveram horrores durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), acreditaram que estavam construindo um império nazista para durar mil anos. Mas a guerra acabou; eles foram aprisionados e julgados por seus crimes. No Brasil, muitos dos que viveram a ditadura militar (1964 – 1985) consideraram que a volta ao regime democrático civil seria puro devaneio. Então, cometeram abusos. Mas tudo mudou e eles tiveram seus nomes, fotos e delitos revelados ao público.
Quando desprezamos as mudanças – grandes e irreversíveis –, nós causamos males a nós mesmos, ainda que nada façamos de errado de modo proposital. Contrariando nossas suposições, as mudanças acontecem e afetam todas as áreas e situações da vida. Em regra, elas nos pegam desprevenidos. Tudo muda: pensamentos, comportamentos, interesses, tecnologias, políticas, mercados, profissões. As formas como as mudanças acontecem variam, de uma simples regra jurídica até grandes reformas e revoluções.
Para haver mudanças é preciso: ter o que mudar e vontade de mudar. O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078, de 1990), alterou toda a relação entre fornecedores e consumidores no Brasil. Antes, os rótulos de alimentos dispensavam o prazo de validade. As grandes reformas religiosas (século XVI) aconteceram num cenário de domínio dos soberanos sobre a religião e insatisfação popular. A Revolução Francesa (século XVIII) se deu pela revolta geral do povo contra a miséria, os impostos e o absolutismo.
Hoje, no Brasil, a classe política rançosa não consegue governar o país. As instituições oficiais estão no limite da exaustão. Há situações dramáticas em saúde, educação, segurança, habitação, mobilidade, meio ambiente. O povo protesta. No mundo, a desigualdade econômica choca. Esta semana, foi divulgada a conclusão do estudo de uma organização civil britânica: 62 pessoas mais ricas do mundo têm riqueza igual à da metade (mais pobre) da população mundial (cerca de 3,7 bilhões de pessoas). Uma vergonha para os líderes mundiais.
Se o circo pega fogo (sem mortos e feridos) e tem gente disposta a cooperar, é véspera de alegrias. Uma crise pode abrir caminho para melhorias. O "impeachment" da presidente Dilma Rousseff pode não ter importância. A cassação do deputado Eduardo Cunha, idem. Importante é que a crise política crie a necessidade e a vontade de mudanças. O Brasil não dá mostras de que vai permanecer emperrado. Os brasileiros não podem apostar que vai acontecer nada. Nós devemos, isto sim, continuar atentos no tempo novo que virá.
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