O tempo passa

Reginaldo Villazón

 
Faz parte da natureza humana viver intensamente a época atual – como que, eternizando o presente –, fazendo de conta que o futuro não será tão diferente. Por mais que tenhamos bebido das fontes da história universal e saibamos que a sociedade humana não cessou sua evolução, não estamos prontos para reconhecer – na prática – que temos um tempo limitado neste mundo, que nossa geração está em vias de virar memória e que as gerações futuras assumirão suas atribuições dentro de realidades muito diferentes.

Os generais alemães sob o comando de Hitler, que promoveram horrores durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), acreditaram que estavam construindo um império nazista para durar mil anos. Mas a guerra acabou; eles foram aprisionados e julgados por seus crimes. No Brasil, muitos dos que viveram a ditadura militar (1964 – 1985) consideraram que a volta ao regime democrático civil seria puro devaneio. Então, cometeram abusos. Mas tudo mudou e eles tiveram seus nomes, fotos e delitos revelados ao público.

Quando desprezamos as mudanças – grandes e irreversíveis –, nós causamos males a nós mesmos, ainda que nada façamos de errado de modo proposital. Contrariando nossas suposições, as mudanças acontecem e afetam todas as áreas e situações da vida. Em regra, elas nos pegam desprevenidos. Tudo muda: pensamentos, comportamentos, interesses, tecnologias, políticas, mercados, profissões. As formas como as mudanças acontecem variam, de uma simples regra jurídica até grandes reformas e revoluções.

Para haver mudanças é preciso: ter o que mudar e vontade de mudar. O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078, de 1990), alterou toda a relação entre fornecedores e consumidores no Brasil. Antes, os rótulos de alimentos dispensavam o prazo de validade. As grandes reformas religiosas (século XVI) aconteceram num cenário de domínio dos soberanos sobre a religião e insatisfação popular. A Revolução Francesa (século XVIII) se deu pela revolta geral do povo contra a miséria, os impostos e o absolutismo.

Hoje, no Brasil, a classe política rançosa não consegue governar o país. As instituições oficiais estão no limite da exaustão. Há situações dramáticas em saúde, educação, segurança, habitação, mobilidade, meio ambiente. O povo protesta. No mundo, a desigualdade econômica choca. Esta semana, foi divulgada a conclusão do estudo de uma organização civil britânica: 62 pessoas mais ricas do mundo têm riqueza igual à da metade (mais pobre) da população mundial (cerca de 3,7 bilhões de pessoas). Uma vergonha para os líderes mundiais.

Se o circo pega fogo (sem mortos e feridos) e tem gente disposta a cooperar, é véspera de alegrias. Uma crise pode abrir caminho para melhorias. O "impeachment" da presidente Dilma Rousseff pode não ter importância. A cassação do deputado Eduardo Cunha, idem. Importante é que a crise política crie a necessidade e a vontade de mudanças. O Brasil não dá mostras de que vai permanecer emperrado. Os brasileiros não podem apostar que vai acontecer nada. Nós devemos, isto sim, continuar atentos no tempo novo que virá.

Comentários