Editorial: A quem pertence

A presidente Dilma Rousseff tomou posse no seu segundo mandato, em 1° de janeiro de 2015, após uma apertada vitória eleitoral numa disputa de dois turnos com muita baixaria. A economia brasileira estava praticamente estagnada (o PIB cresceu apenas 0,1% em 2014). Os eleitores reivindicavam combate à corrupção e melhoria dos serviços públicos. Os analistas previam o segundo mandato presidencial cheio de problemas.

O ano de 2015 foi pior do que imaginavam. Notícias de corrupção e má gestão de recursos públicos abalaram o centro do poder. A inflação voltou a crescer, os juros subiram, o consumo caiu, o desemprego aumentou. Enfim, o Brasil em crise. Mas, alto lá! A crise não foi gerada pelas empresas (forçadas a reduzir suas atividades), pelos trabalhadores (demitidos sem justa causa) nem pelos consumidores (afetados pela corrosão do poder de compra).

A crise do país não é exatamente econômica, financeira, jurídica ou social. Acima de tudo, a crise é política. A política é que está em crise. A crise pertence aos políticos. O que castiga as demais atividades do país é efeito colateral da crise política. Para maior desventura, crise política pertence a todos os políticos do país, de cima a baixo.

Vejamos em Jales. Nice Mistilides (PTB) tomou posse na prefeitura, em 1°. de janeiro de 2013, com a tarefa de jogar uma pá de cal sobre os oito anos de administração de Humberto Parini (PT). Mas teve crise e cassação. Em 18 de fevereiro de 2015, o vice-prefeito Pedro Callado (PSDB) assumiu a prefeitura com ares de independência político-partidária. Nesta postura, incluiu apenas dois tucanos na sua assessoria em nível de município.

A independência político-partidária do prefeito Pedro Callado ignorou os aliados políticos dos nove partidos coligados que o apoiaram na campanha vitoriosa de 2012. O prefeito se aproximou de políticos que foram seus adversários no pleito em que se elegeu, acreditando que fazia uma união de forças para realizar um bom governo.

Na prática, a tese de independência político-partidária criou uma situação embaraçosa que hoje é sentida no ambiente político-administrativo. O governo estadual é PSDB; o de Jales também. Mas o PSDB não é um partido forte sozinho em Jales, apesar das demonstrações de apoio ao prefeito por parte de diversos cidadãos e empresários. O prefeito fez bem, isto sim, foi evitar o fisiologismo político-partidário, uma péssima tradição política.

Ao tomar posse, Pedro Callado falou sobre austeridade nos gastos, mas não propôs medidas administrativas eficientes. A queda de receitas já batia às portas da prefeitura. O aperto financeiro piorou e o crédito para comprar de empresas privadas encurtou. O prefeito, logo de início, deveria ter nomeado todos os secretários para dar início a uma administração rigorosa. E reunir colaboradores de diversos partidos – com trânsito livre em vários órgãos de governo – com o objetivo de trazer soluções para município. Mas alegou falta de dinheiro para compor todo o secretariado e não aglutinou forças políticas.

As notícias vindas dos escalões superiores da política nacional ainda são ruins. Para este ano de 2016 é previsto um avanço da crise. Os governadores reclamam. Os prefeitos adiam obras nas cidades e assistem à degradação do asfalto das vias públicas pelas fortes chuvas. Este quadro de aparente abandono – que também acontece em Jales – causa insatisfação popular e pode perturbar as eleições municipais deste ano.

O prefeito Pedro Callado tem 12 meses de trabalho pela frente. Ele foi eleito para agir em favor do município e não pode dar razão a comentários negativos, como os que insinuam que ele perdeu a autoridade político-administrativa. Ainda que ele não se preocupe com seu futuro político (que pode ser curto), tem o dever de conduzir bem o município até o fim de 2016.

A crise política vai ser solucionada pelos políticos. Acreditar que os políticos vão quebrar o país é pura ilusão. Além disso, as pessoas e famílias não podem entrar o Ano Novo em clima de desesperança. Pensem bem: esta crise pertence aos políticos. Ela não prejudica todo mundo igualmente nem anula os esforços de quem quer se livrar dela. Programem um ótimo 2016: estudar, ler mais, aprender coisas novas, meditar, conversar, abraçar, consumir menos água e energia, cortar gastos supérfluos, poupar.

A Folha Noroeste deseja a todos um Feliz Ano Novo, com saúde, paz e muitas alegrias.

Comentários

  1. Que a esperança e a Força nos ajudem em 2016 e que tenhamos sabedoria para passar o bastão municipal ao próximo governante.
    jaious@hotmail.com

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