Instabilidade

por Reginaldo Villazón

A Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), a maior contenda do mundo moderno, é um ponto de referência para as grandes tragédias humanas. Nos seis anos de hostilidades, estima-se que morreram 60 milhões de pessoas (militares e civis), equivalentes a 3% da população mundial da época (2 bilhões). Cerca de 800 milhões de pessoas viveram em zonas de conflito. Com o fim da grande guerra, reduziu-se muito a população residente em regiões de litígio. Mas hoje, no mundo, cerca de 1 bilhão de pessoas sofrem a realidade das guerras.

Viver em regiões de conflito é viver no caos. Não é uma simples questão de falta de segurança. A radicalização política e a desordem econômica contribuem para que as pessoas se submetam a situações extremas de penúria. Quando nada acontece em favor, abandonar as casas e fugir é o remédio amargo para milhões de pessoas. Os países receptores não estão preparados para acolher tanta gente. Neles, acontecem problemas de subsistência e convivência. E muitas vezes vida como refugiados precisa se prolongada por décadas.

Aos conflitos armados, confrontos políticos e infortúnios econômicos se somam os desastres naturais para aumentar a instabilidade neste planeta de 7,3 bilhões de pessoas. Os desastres naturais relacionados ao clima – tempestades, inundações e secas – têm aumentado nas últimas décadas. Sua ocorrência mata milhares de pessoas, afeta milhões de vidas humanas e causa danos de bilhões de dólares por ano. Estima-se que 20 milhões de indivíduos foram deslocados de suas regiões por estes eventos no ano passado.

Dados estatísticos apontam que os desastres geofísicos – terremotos, tsunamis e atividades vulcânicas – permanecem estáveis nos últimos anos. Porém, causam mais destruição e matam mais pessoas do que os outros desastres naturais juntos. O terremoto de 2010 no Haiti matou mais de 200 mil pessoas, deixou mais de 1 milhão desabrigadas e deslocou mais de 100 mil para o Brasil. O terremoto deste ano no Nepal matou cerca de 8 mil pessoas, feriu mais de 10 mil e desabrigou mais de 100 mil.

A instabilidade no planeta – causada por conflitos, desastres naturais e desastres geofísicos – gera um grande número de pessoas que precisam ser atendidas com abrigo, alimento, água, assistência médica e oportunidades de vida digna. O crescimento populacional, as guerras, as interferências humanas na natureza e as mudanças naturais do planeta fazem com que todos fiquem mais expostos a adversidades. Ocorrem reflexos dolorosos, como nos países europeus diante das levas de imigrantes.

Governos, empresas, organizações civis e cidadãos – em todos os níveis – devem agir com mais responsabilidade para evitar o que pode ser evitado (como o recente desastre em Minas Gerais), minimizar os efeitos do que pode ser previsto (como os tsunamis), prestar ajuda humanitária (como aos refugiados das guerras e desastres). Nos países mais evoluídos, a vulnerabilidade das populações aos riscos é muito menor. Por estas razões, as mudanças de atitudes – que começam dentro de cada pessoa – precisam acontecer.

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