Política e sentimentos

por D. Demétrio Valentini

O Dia da República – 15 de novembro - é propício para abordar a política. Motivos não faltam para andarmos preocupados. Ente eles, o clima de crescente hostilidade, com claras manifestações de ódio, que é sempre precursor da violência.

Por sua natureza, a atividade política comporta a diversidade de opiniões, e estimula, de maneira positiva, a formulação de planos de ação, que precisam angariar adesões crescentes na cidadania, visando sua implementação.

Dentro deste contexto, se entende igualmente que a ação política supõe dedicação e afinco, que precisam de sustento e motivação. Sem garra e determinação, ninguém consegue nada em política.

Mas uma coisa é o devotamento e o entusiasmo sadio, indispensável para desencadear um processo político que demanda persistência e constância.

Outra coisa é fomentar o ódio contra as pessoas que não comungam conosco do mesmo projeto político. A política não pode ter como combustível o ódio contra os "adversários".

Neste sentido, precisamos nos alertar, para que o exercício da política não alimente no subconsciente coletivo dos cidadãos um clima de intolerância e de hostilidade, que começa a tomar a forma de manifestações de ódio, que predispõe os ânimos a apelarem para atos de violência, com as lamentáveis consequências que daí podem derivar.

A experiência mostra que, desencadeado o clima de ódio, ninguém consegue neutralizar sua dinâmica. Enquanto é tempo, precisamos desmontar a bomba, que está prestes a explodir.

Ultimamente, o clima de ódio vem se acentuando. São preocupantes as manifestações de intolerância e virulência, que passam a ser cada vez mais usadas nos embates políticos a respeito da situação do país. Parece que nada mais detêm a fúria dos descontentes com a situação atual, sem que eles percebam que suas atitudes são ingredientes que alimentam a fogueira, e em nada contribuem para a verdadeira solução dos problemas.

Em algumas circunstâncias, fica bem clara a destinação do ódio que extravasa das mentes e dos corações. Algumas pessoas, e partidos também, passam a ser os destinatários diretos dessas manifestações de ódio.

Isto não é próprio da tradição política brasileira. Alguns países, co-irmãos nossos aqui da América Latina, têm um histórico bem mais pesado de solução dos conflitos pelo uso da força, com a sequela de vítimas a contabilizar.

Como em tudo, mas especialmente na política, não podemos deixar que se crie um ambiente de ódio, de intolerância, e de acusações que só têm por objetivo despertar a violência, que muitas vezes acaba vitimando as pessoas mais desprotegidas.

Na política, como em outras atividades, não podemos nos deixar guiar pelos sentimentos. Eles são importantes, como motivação positiva para enfrentar situações difíceis. Mas eles precisam ser enquadrados pela razão, que requer, também ela, o justo equilíbrio e a dedicação às causas do bem comum.

Política se faz pelo amor à Pátria, não pela disseminação do ódio entre os cidadãos.

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