Pecados capitais: Desafios do Século XXI

Por Maria Aparecida da Silva Santandel e Neide Yokoyama

O século XXI está abarrotado de ações consideradas não humanitárias, tanto nas perspectivas individuais quanto coletivas. Uma reflexão remete-nos aos sete pecados capitais (a inveja, a raiva, o orgulho, a avareza, a preguiça, a luxúria e a gula), que não fazem parte de um contexto isolado; ao contrário, são onipresentes e expõem a humanidade a desafios cotidianos para superá-los, ou amenizá-los.

Considerando a trajetória da humanidade nas últimas décadas, compreendemos que ela carece de espírito inovador, movida pelo desejo de superação, porém os resultados almejados não são alcançados porque prevalecem a idiossincrasia e o espírito individualista, próprios de uma sociedade dominada pela tecnociência e pelo consumismo desenfreado. Como consequência, muitas pessoas se isolam dentro das muralhas da comodidade, mascarando uma falsa felicidade, solidariedade e justiça e escancarando a omissão diante dos desígnios da sociedade. E é nesse esconder-se de cada pessoa que aparecem, na cena, os mais fracos.

Assim, temos uma sociedade hiperativa e conectada mundialmente, diversificada nas suas relações de lazer e opções culturais, mas, ao mesmo tempo, envolta por cidadãos que não sabem agir, que não sabem pensar e que, por isso, se calam diante de situações de injustiça, praticando a iniquidade, a (des)governança da ação. E, mesmo não tendo merecimento, eles esperam uma "boa justiça" social e política em face dos deslizes cometidos pelo Estado.

Vivemos em uma sociedade paradoxal em que as tecnologias, movidas pela dinâmica dos meios de comunicação/informação, ultrapassam barreiras rapidamente, enquanto outros tipos de ações são esquecidos, ou propositadamente omitidos. Ações como o ato de tratar do que é nosso, cuidar do que é de todos. Então, deparamos com os sete pecados capitais, em diferentes aspectos, a envolver o homem moderno, o homem dito "tecnológico". Indagamos: É a tecnologia - em si - a causa de tudo isso? Sabemos que, conforme aborda Foucault, existem as relações perceptíveis de um biopoder presente no cotidiano das interações sociais, que, de maneira sutil, por meio de tecnologias, supervisiona e administra as anomalias da sociedade.

O cidadão precisa avançar como ser social. Ter o olhar direcionado pela razão, pela noção do que é o espaço, o mundo, a própria concepção de vida, em si. Somos constituídos por sentidos, por situações cotidianas que nos fazem deparar com atitudes, valores e paradigmas. Já foram narradas várias histórias em que as sociedades sempre ultrapassaram as suas metas, as suas necessidades, superando algum tipo de desafio. Mal iniciamos o século XXI e já tememos pensar em qual será o nosso desafio do século XXII. Porque o homem como esteira, este não é o foco. O homem como base familiar, este também não é o foco.

É necessário termos um olhar crítico diante da nossa sociedade e, em especial, desse homem do século XXI, porque a fluidez de valores e regras aplaudidas pela cultura da "liberalidade" – tão amplamente consumista – preocupa-nos ao refletirmos sobre como será esse homem moldado para o século XXII.

Maria Aparecida da Silva Santandel: Professora Mestre pela UFMS – Núcleo de Tecnologias Educacionais de Três Lagoas (NTE) e Tutora Presencial do Curso Técnico em Administração (E-tec – Polo de Três Lagoas/MS).

Neide Yokoyama: Professora e ex-coordenadora do curso de Administração da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS.


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