Governos

por Reginaldo Villazón

A observação das pequenas comunidades isoladas permite verificar que elas se conduzem de forma bem organizada. Aglomeradas em aldeias e acampamentos, elas respeitam seus líderes e praticam normas tradicionais de convivência. Desde antigamente, elas têm um governo simples, tal como um chefe, um religioso, um ancião. O custo desse governo é mínimo. Seus integrantes recebem pequenas doações para o sustento pessoal. Nessas comunidades, as regras ditadas pelos costumes tradicionais têm supremacia sobre o mando do governo.

Nos impérios formados pelos grandes conquistadores (Átila, Ciro, Alexandre e outros), a realidade se fazia muito diferente. O governo era concentrado na figura do imperador e seus auxiliares diretos. O mando prevalecia sobre os costumes tradicionais. Apesar do governo rudimentar, o poder era mantido pela força de um grande exército, que nada produzia, mas precisava ser vestido, alimentado e equipado. Este problema era facilmente resolvido: o próprio exército saqueava sistematicamente os povos dominados.

Na Europa medieval – dos reis e senhores feudais – o governo consistia de uma minoria de nobres e religiosos. O mando era uma característica evidente. O custo de sustentar o governo era elevado porque a minoria dominante era cheia de privilégios e compromissos políticos. Boa parte do que o povo produzia era confiscada a título de impostos.

Numa rápida análise, vemos que as regras ditadas pelos costumes tradicionais se movem de baixo para cima, determinam governos simples, geram custos modestos. Ao contrário, o mando oficial se move de cima para baixo, exige aparato institucional e custa caro. Saber disto, desta forma descomplicada, é importante. Mas não é suficiente.

Aparentemente, estão cheios de razão aqueles que defendem um governo enxuto, pouco arrecadador de impostos, focado em educação, saúde, segurança e justiça. A interferência mínima desse governo criaria um ambiente de liberdade favorável para a sociedade desenvolver projetos sócio-econômicos de interesse do país. No Brasil, o presidente Fernando Henrique (PSDB) trilhou este caminho em dois mandatos (1995 a 2002). O final foi infeliz. O metalúrgico Lula (PT) sucedeu o PSDB com uma vitória eleitoral arrasadora.

A sociedade elege muitos políticos – na federação, nos estados e nos municípios – com o propósito de ter muitas reivindicações atendidas. Isso exige mando, instituições e custos. Claro, estes requisitos devem ter limites e aplicação eficiente. Mas os políticos estão preparados para fazer isto? Infelizmente, suas atitudes dizem: não. Um erro: os prefeitos e vereadores são obrigados a cumprir estritamente as atribuições vindas de cima, mas ficam expostos às cobranças sociais e emergências vindas de baixo. Outro erro: o modelo de mau exemplo – de esbanjamento do dinheiro público – dado pelos que estão no centro do poder.

O país está vivo, a sociedade evolui rapidamente. Os políticos estão estagnados, presos a padrões arcaicos de sabedoria e comportamento. O fosso entre a sociedade e os políticos tende ao alargamento. Terá que haver uma ruptura para poder iniciar um novo começo.

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