A classe política está apavorada com seu futuro.
Não resta outra coisa aos representantes do povo, neste ciclo de confluência de
crises – política, econômica, hídrica, energética, moral - que uma imersão no
terreno da ética e uma passagem por lições sobre o estado social do país. A
análise sobre os motivos que os jogam no fundo do poço da descrença poderá se
transformar na chave para que reencontrem sua
identidade.
Quais
são essas razões? Primeiro, a imensa maré de lama que envolve o triângulo do
poder: governo, política e círculos de negócios. As teias intestinas formam um
poder invisível que ameaça a saúde das instituições. Nunca se viram tantas
confabulações oriundas do submundo da política e da administração pública,
deixando ver usurpadores, criminosos, pilantras, oportunistas, cínicos,
vivaldinos e “laranjas”, máfias que se apropriam do dinheiro público. Por isso,
é sofisma dizer: as instituições estão funcionando. Isso não é suficiente para
dizer que o Brasil vai bem. É preciso que as instituições funcionem bem. O que
não ocorre.
Estourar
o poder invisível é a meta maior dos órgãos de controle. Se não for de todo
possível, pelo menos diminuir seu tamanho torna-se dever inarredável dos homens
públicos e da sociedade organizada, sob pena de vermos fraquejar o ideal da
democracia como governo do poder visível.
A
tarefa em desvendar o poder oculto que se instalou nos porões da vida pública
tem sido fundamental para a conscientização social. A estratégia de combate ao
ilícito passa a requerer a força coletiva. Toda mudança em profundidade se
ancora na vontade geral. Para limpar a cara do Brasil que dá vergonha, os
sentimentos do povo precisam seguir os comandos normativos.
Esse
é o pano de fundo que acolhe a antipolítica em curso, um movimento que se
expande pelas entidades organizadas, animando grupos, incentivando categorias
profissionais, abrindo intenso debate sobre os rumos do país. O foco dessa
movimentação é o amortecimento da velha política, significando inovação de
prática e costumes, busca de novos quadros, a meritocracia no lugar de
indicações políticas para cargos, priorização de programas e ações públicas,
entre outros aspectos. Chegou a hora de extirpar os galhos podres da árvore
patrimonialista: o caciquismo, o mandonismo, o grupismo, o familismo, o
nepotismo, o fisiologismo.
A
corrupção e a arbitrariedade imantam até perfis de parcelas ponderáveis do
sistema judiciário, na forma de decisões injustas, parcialidade em julgamentos,
enfraquecimento de posições, atenuação de culpas, vistas grossas a processos,
prejulgamentos e desvio de padrões condizentes com a missão da justiça. Os
comportamentos tortuosos de agentes de todos os setores da vida produtiva e do
sistema institucional do país estabelecem densa camada de insensibilidade
social.
A
escalada do caos resulta na sensação geral de descrença, frieza, mesmice, eixos
da cultura de acomodação que, por pouco, não amortece o tecido social. Nos
últimos tempos, a sensibilização social se expandiu, na esteira das ondas de
violência do aparelho policial e das denúncias de grandes escândalos. A
sociedade se anima a reagir com um sentimento de indignação sob o guarda-chuva
da antipolítica.
Afinal,
o que move a antipolítica? Vejamos alguns eixos:
Promessas
- Não se deve prometer o que não se poderá cumprir. O país exige sinceridade. Os
espaços das alegorias, promessas mirabolantes, planos fantásticos vão ficando no
baú. Qualquer tentativa de recuperar esse terreno trará dissabores.
Identidade -
Um político deve ter identidade, personalidade. Uma coluna vertebral torta gera
desconfiança. A imagem que um político projeta não poderá ser diferente de seu
conceito. Coluna vertebral reta incorpora as costelas da lealdade, da coerência,
da sinceridade, da honestidade pessoal e do senso do dever.
Representação social -
Representar o povo significa escolher as melhores alternativas para seu
bem-estar. Uma decisão orientada exclusivamente pela intenção de adoçar as dores
das periferias angustiadas não vai longe. Político sério se preocupa com rumos
permanentes e medidas condizentes com as possibilidades das
administrações.
Sapiência
- Sapiência não significa vivacidade. Sabedoria é mistura de aprendizagem,
compromisso, equilíbrio, administração de conflitos, busca de conhecimentos,
capacidade de convivência e decisão racional. A vivacidade é a cara feia do
fisiologismo, tumor que até o povo simples começa a lancetar.
O cheiro do povo
- O cheiro do povo invade as ruas, os ônibus, os escritórios, as fábricas, o
campo. Até elitistas ampliam espaços ante a ameaça de isolamento. O povo sabe
quem está ao seu lado.
Esconderijos
- Não dá mais para alguém se esconder. A corrupção, é claro, não acabará. Mas é
preciso atentar para o fato de que as denúncias sobre negociatas e trocas de
favores ilícitos constituem o prato da mídia. A palavra de ordem é:
transparência.
Mais ação - O
discurso que vinga abriga propostas concretas, viáveis, simples e com metas
temporais. Sua adaptação ao momento é fundamental. A população dispõe de
entidades que a representam em diversos foros, algumas delas com atuação
política tão densa quanto o Congresso. Resta ao político se apoiar nesse
universo.
Simplicidade e modéstia
- Um homem público não precisa se vestir com o manto divino. A honraria que os
cargos conferem é passageira. Mandato pertence ao eleitor. Ser simples não é
arranjar cenas de crianças no colo, comer cachorro quente na esquina ou
gesticular para famílias nas calçadas. A simplicidade é o ato de pensar, dizer e
agir com naturalidade.
Estado e Nação
- O político pode até lutar por um Estado diferente da Nação que o povo quer. A
Nação é a Pátria que acolhe, é o território onde os cidadãos se sentem bem e
gostam de viver e constituir um lar. O Estado é a entidade
técnico-jurídico-institucional, comprimida por interesses e dividida por
conflitos. Aproximar o Estado da Nação constitui a missão basilar da
política.
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