Sem visto, por Reginaldo Villazón

Movimentos migratórios fazem parte da natureza. Humanos, animais, plantas e outros seres se deslocam no planeta desde tempos remotos, sem respeitar limites geográficos. Estudos genéticos indicam que a coletividade humana é uma só, que se disseminou e se adaptou às diversas regiões do mundo. Assim, os índios "peles vermelhas" norte-americanos um dia foram estrangeiros que chegaram ao território hoje dos Estados Unidos. E os índios "legítimos brasileiros" foram estrangeiros que chegaram ao Brasil.

Migrações no Brasil não são novidade. A base de formação do povo brasileiro é a sucessão de correntes migratórias recebidas desde a época colonial. Internamente, no século passado, as migrações do campo para as cidades – chamadas "êxodo rural" – mudaram a geografia e a economia brasileiras. Metrópoles, como São Paulo e Rio de Janeiro, prosperaram com gente vinda de outras regiões do país. Parece que – por necessidade ou oportunidade – nascer, viver e morrer no mesmo torrão não foi sempre uma grande idéia.

Hoje, a população mundial de mais de 7 bilhões de pessoas dispõe de maiores recursos para comunicação e integração em amplos aspectos. Grandes quantidades de informações, valores financeiros, produtos e pessoas transitam pelo mundo todos os dias. A globalização é uma realidade que continua avançando sem retorno. As fronteiras dos países se tornam permeáveis e inconsistentes. Fica difícil controlar os limites territoriais e o constante vai-vem de pessoas. Quando preciso, os governos têm que usar medidas especiais.

Representantes de organizações sociais alertam para grandes movimentos migratórios no planeta durante no século 21. Os motivos são vários: perseguição política, guerra étnica, mudanças climáticas, subdesenvolvimento, fome. Os órgãos de comunicação já exibem milhares de refugiados (homens, mulheres e crianças) do Oriente Médio e da África tentando chegar à Europa. Muitos perdem a vida. Esta semana, na Áustria, 50 deles foram encontrados mortos por asfixia dentro da carroceria-baú de um caminhão.

O Brasil não está fora do assunto. Em 2012, o tema da redação do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio – foi "O movimento imigratório para o Brasil no Século 21". Há crescente interesse pelo Brasil por cidadãos de várias partes do mundo. Após o terremoto que abalou o Haiti em 2010, grupos de haitianos passaram a entrar no Brasil na condição de imigrantes. A maioria foi bem recebida por autoridades, empresários e entidades sociais. Mas houve discriminações, até atentados com mortos e feridos.

As imigrações trazem vantagens. Empresários brasileiros civilizados disputam a contratação dos haitianos. Eles são educados, inteligentes e produtivos. A Igreja Católica – sem condições de acolher tantos imigrantes – foi exemplar em fazer o melhor possível e contribuiu para bons resultados. O Brasil pode evoluir nessa direção e servir de modelo. Esta é uma boa época para os brasileiros promoverem uma forte campanha pela imigração, por razões humanitárias e no interesse do progresso do país.

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