Sem rumo, por Reginaldo Villazón

Houve época em que a luta de classes era uma realidade essencial na política e na economia. Não faz muito tempo, foi no século recém-passado. No mundo, os países se dividiam na guerra fria entre capitalismo e socialismo, sob liderança dos Estados Unidos e da União Soviética. No Brasil, na região industrial metropolitana de São Paulo, um metalúrgico barbudo sindicalizado chamado "Lula", em cima de caminhão, fazia discursos inflamados contra a Fiesp, a poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

O confronto entre operários e empresários era forte. A greve era o instrumento dos operários para impor prejuízos aos empresários. Do lado oposto, os empresários castigavam os operários com demissões. Para piorar o ambiente, o país estava sob ditadura militar. Mas a ditadura no Brasil acabou (1985), o muro socialista de Berlim foi demolido (1989) e a União Soviética se desintegrou (1991). O mundo mudou. Hoje, é comum que trabalhadores e patrões lutem por seus direitos e conquistas de forma civilizada.

Esta semana, o profissional e empresário Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do SESCON-SP – o sindicato das empresas de serviços contábeis do Estado de São Paulo – divulgou um artigo simples e direto sobre a crise econômica no país. Ele ouve as preocupações dos seus clientes (empresários de todos os tamanhos) e as confirma na leitura dos números contábeis das empresas. Ele sabe que a crise é ruim para empresários, trabalhadores e consumidores. Ele sabe que a crise é danosa ao país.

No artigo – "A conta amarga de uma economia sem rumo" –, Sérgio Approbato aponta os erros cometidos na economia pelo governo, passando longe de ideologias. Exibe números sombrios da economia. E conclui: "O fato é que a indústria atravessa uma grave crise. O comércio e o serviço estão parando, o desemprego ameaça as famílias. Um milhão de desempregados só na construção civil. Além disso, as decisões erradas dos últimos doze anos esvaziaram o Tesouro Nacional". Palavras que merecem atenção.

Com exagerado otimismo, podemos dizer que esta crise é só mais uma crise. Podemos dizer que apenas duas coisas importam nesta crise: sua profundidade e sua duração. Pois é aqui que mora o perigo. A crise atual é complexa. Ela entrelaça as instituições, as empresas estatais, o sistema político vigente, os partidos políticos e os políticos. A capacidade de governar – "governabilidade e governança" – diminui e arrasta para baixo a confiança da população nos políticos e nas organizações que eles representam.

É certo que a evolução da crise pode causar o afastamento da presidente Dilma e até uma intervenção constitucional para tirar o país do caos. Ou seja, pode haver muito sofrimento, mas haverá sempre uma saída, contando que pessoas sérias e competentes sejam convocadas para realizar uma grande reforma no estado brasileiro. Há muita coisa que precisa ser mudada. A luta de classes e o confronto ideológico perdem a importância. Estes novos tempos pedem a renovação das estruturas, das práticas, dos horizontes e dos rumos.

Comentários