Opinião pública, por Reginaldo Villazón

Adolf Hitler (1889 – 1945) nasceu na Áustria, numa pequena cidade junto à fronteira com a Alemanha. De origem humilde (filho de um agente alfandegário e uma dona de casa), teve infância e juventude conturbadas, mas dedicou-se à pintura, leitura de livros e audição de músicas clássicas. Em 1913, aos 24 anos, mudou-se para a Alemanha. No ano seguinte, alistou-se como voluntário no exército alemão. Na Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), foi condecorado com a Cruz de Ferro de Primeira Classe por mérito militar.

Em 1919, o Tratado de Versalhes fixou as condições de paz pós-guerra e apontou a Alemanha (grande perdedora) como responsável pelo conflito. As penalidades impostas pelo tratado mergulharam a Alemanha numa crise. Dívidas, inflação, desemprego e subsalários favoreceram a luta ideológica interna, na qual pereceram os marxistas Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht. O último imperador, Guilherme II, no fim da guerra havia abdicado do trono e deixado o país. Alemanha democratizou-se sob o nome República de Weimar.

Este cenário – carregado de sofrimentos e ressentimentos – foi decisivo na ascensão de Adolf Hitler. Ele se filiou ao recém-fundado Partido dos Trabalhadores Alemães, que foi rebatizado de Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (de forma abreviada, Partido Nazista). Adolf Hitler tornou-se chefe do partido e fez uso eficiente da sua oratória, da propaganda ideológica e dos meios de comunicação. Ele modelou e canalizou a opinião pública em seu favor para chegar ao poder absoluto na Alemanha.

Longe na distância e no tempo, o Brasil penou a Ditadura Militar (1964 – 1985). Foram duas décadas sem eleições, com censuras, detenções, torturas e desaparecimentos. Dois blocos civis (situação e oposição) encenaram o teatro político bipartidário. Quando o povo desejou a democracia de volta, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e seus líderes captaram e amplificaram a opinião pública através do movimento por eleições "Diretas Já". Os militares voltaram aos quartéis e o Brasil se redemocratizou.

Hoje, estudiosos admitem a existência da opinião pública, descrevem como ela se forma e como ela se interage com a mídia. Eles aceitam que a opinião pública possa ser pesquisada, anotada e medida para divulgação confiável. Eles afirmam que a opinião pública exerce influência sobre o sistema político. No entanto, há críticos com idéias bem diferentes. Alguns dizem até que a opinião pública não existe, porque ela é a soma de opiniões individuais semelhantes, mas diferentes nas causas, na persistência e na intensidade.

Amanhã (16 de agosto, domingo), deverá haver manifestações em mais de 200 cidades no Brasil e no exterior, convocadas por grupos sociais, para protestar contra o governo. Vê-se que o cenário político é diferente da Alemanha nazista e do Brasil na ditadura. E agora existe a internet e os celulares. Mas há uma crise que se aprofunda, subjuga a sociedade e o país. A opinião popular não é unânime, porém é grande o descontentamento. Eis um bom desafio: refletirmos sobre as conseqüências possíveis destas manifestações.

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