Rotular a criança, por Flávio Carvalho

 
O rótulo é um fato da vida, não importando que pensemos ser ele bom ou mau. Como não podemos impedi-lo, o fundamental é reconhecer que o rótulo inconscientemente pode moldar a pessoa que é rotulada. O rótulo pode induzir a pessoa a ser o que ela realmente não é.

O rótulo é o resultado de um julgamento e produz reação social, seja o julgamento correto ou não, seus efeitos produzem profundas reações sociais. No caso da criança com dificuldades de aprendizagem, os rótulos podem consistir de adjetivos como "retardada", "perturbada" e "incapaz".

Ao rotular, deixamos de levar em consideração o incomum, o humano, o diferente, sendo que categorizar o comportamento humano pode ser útil para o geral, mas não para o especifico.

Chamar uma criança de "preguiçosa" é uma maneira fácil de descrever o que pensamos sobre o seu comportamento em uma determinada circunstancia, no entanto provavelmente esta criança já se comportou de maneira bem distinta em muitas outras ocasiões. Ao chamarmos a criança de "preguiçosa" podemos estar contribuindo para criar uma criança "preguiçosa".

Dependendo dos problemas que apresentavam, até algumas décadas atrás, tais crianças eram rotuladas como tendo problemas emocionais ou apresentando bloqueios mentais. Nos anos sessenta e setenta, ficou evidente que algumas dentre essas crianças apresentavam realmente problemas emocionais somente depois de terem experimentado os dissabores de um insucesso escolar e, então, foram rotuladas como tendo disfunção cerebral mínima, problemas neurológicos, mau ajustamento escolar. Muitos rótulos estão em desuso atualmente, considerando learning desabilities menos ofensivo do que os anteriores.

Desmoralização e baixa auto-estima podem estar associadas às dificuldades de aprendizagem, segundo o DSM-IV.

Temos constatado que a criança com dificuldades de aprendizagem é, frequentemente, rotulada de "lenta", "preguiçosa" e "burra". Isto é o que mais nos preocupa.

Rotular a criança pode causar um dano psicológico e se refletir no futuro.

Devemos estar atentos para o fato de que a criança com dificuldades de aprendizagem deseja aprender e, se não for identificada e atendida em termos educacionais e terapêuticos, poderá desenvolver problemas emocionais, problemas de delinquência e até mesmo de doença mental.

Adotamos o termo dificuldades de aprendizagem, pois o mesmo é dinâmico e aberto para possibilidades de progresso e sucesso.

NÃO ROTULAR... ESCUTAR... ENTENDER...TRATAR... AMAR.


Flávio Rodrigo Masson Carvalho
equilibriumtc@hotmail.com

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