O OUTRO LADO DA MOEDA


Por Celina Midori Ichikawa e Ana Claudia Bansi

 Tirar férias, viajar, conhecer novos lugares, pessoas, culturas, respirar novos ares e recarregar nossas baterias: vamos fazer turismo!!! Viajar é lindo e tudo de bom, mas conseguimos ver e entender o outro lado da moeda?
O turismo é uma atividade econômica recente, cujo conceito ainda vem evoluindo. Dentre os conceitos que definem o que é turismo, destaca-se, segundo a visão economicista, que o turismo é “uma indústria sem chaminés”, fazendo uma referência à geração de riquezas e uma analogia para conotar que a atividade é pouco ou nada degradante. A necessidade da implantação de serviços, equipamentos, alojamentos e infraestruturas, ligados diretamente ao turismo, causa, no entanto, impactos nos ecossistemas.
É notório que o turismo gera benefícios, tais como: desenvolvimento econômico da localidade, geração de empregos e, consequentemente, renda para a população local, melhoria da infraestrutura, envolvendo água, esgoto, estrada e aeroportos. O turismo, entretanto, como atividade econômica que, como qualquer outra, objetiva o lucro, também degrada, gera exclusão social, pobreza e diversos outros tipos de impactos, sejam estes positivos ou negativos.
Como nem tudo são flores, percebe-se que, em paralelo ao desenvolvimento econômico e movimentação da economia, aumentam-se os preços do aluguel, das bebidas e de serviços em geral, pois existe o pensamento de que “o turista tem dinheiro, veio para gastar, vamos aproveitar e ganhar o máximo que conseguimos”. Esquecem que a própria população local acaba sentindo e pagando os efeitos desse pensamento. Ao mesmo tempo em que gera empregos, gera subempregos, que são atividades informais não abrangidas pelos direitos trabalhistas, como, por exemplo, os vendedores ambulantes e flanelinhas. Além disso, ocorre um desequilíbrio no processo de contratação: os empregadores de hotéis, pousadas e restaurantes dão preferência às mulheres jovens.
Entram, ainda, no rol de impactos negativos, a prostituição, a criminalidade, a sobrecarga de tráfego e o aumento de acidentes de trânsito, bem como êxodo rural, favelização (ocupação de áreas precárias, causando desmatamento e retirada da vegetação) e alcoolismo.
A arquitetura, a cultura, a gastronomia e o artesanato local também não escapam: quando ocorre a troca de prédios antigos por modernos, acaba-se desvalorizando a arquitetura e perdendo a memória ou produzindo a descaracterização cultural; restaurantes que deixam de preparar pratos tradicionais típicos da região e dão preferência à comida fast food ou outros tipos de comidas, que podem ser encontrados facilmente em outras localidades, justamente para atenderem ao alto fluxo. Mas isso acaba sendo maléfico do ponto de vista turístico, pois acaba afastando os visitantes. Por exemplo, quem vai ao Rio Grande do Sul quer experimentar o churrasco e o chimarrão; quem vai ao Rio de Janeiro quer experimentar a feijoada; a São Paulo, o cuscuz; ao Espírito Santo, a moqueca, e assim por diante.
Como mencionado, o artesanato local também pode ser impactado pelo turismo, uma vez que, para atender à demanda dos turistas, os artesãos acabam dando preferência às peças que mais saem, ou pior, acabam padronizando o artesanato num processo semelhante ao do “made in China”.
 Não se podem deixar de lado, nessa discussão, os impactos ambientais causados pelo ecoturismo: poluição de praias e do ar, destruição de florestas, retirada de vegetação para abertura de trilhas e estradas, erosão do solo, desgaste de rochas e minerais, aumento do lixo produzido pelos ecoturistas, entre outros.
Percebe-se, portanto, que existe muito mais por trás do turismo e, quando não bem planejado e monitorado, pode causar grandes impactos, muitas vezes negativos e irreversíveis. Diante do exposto, espera-se que o turismo seja praticado com mais consciência e que os turistas percebam que, para estarem ali, respirando novos ares e recarregando suas baterias, há um preço.
Celina Midori Ichikawa: Acadêmica do curso de Administração da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS. Email: celina_ichikawa@hotmail.com
Ana Claudia Bansi: Professora da área de Gestão do IFSP - Campus de São Carlos/SP. E-mail: ana_bansi@hotmail.com

 

 

Comentários