Dengue, chikungunya e zika vírus: o cidadão carrega a culpa, por Por Luiz Fernando Pavan da Silva

O Brasil enfrenta, neste ano de 2015, um dos piores períodos já registrados em relação à dengue. Segundo os últimos dados informados pelo Ministério da Saúde (MS), até a semana epidemiológica 23 (SE 23), considerado o período de 04-01-2015 a 13-06-2015, foram registrados impressionantes 1.125.955 casos prováveis da doença, dos quais 841 foram casos graves e 11.900 com sinais de alarme. No mesmo período de 2014, foram registrados 518 casos graves e 7.038 com sinais de alarme. Sem dúvida, um aumento considerável.

Mais preocupante ainda foram os casos de óbito decorrentes da doença – 434 contra 306 casos registrados –, um aumento drástico de 42% em comparação a igual período no ano anterior.

Outra doença que anda preocupando é a febre Chikungunya, com nomenclatura nada comum e ainda pouco discutida, que já fez muitas vítimas: ainda de acordo com dados do MS, 3.657 casos foram notificados em 2014. Neste ano, até a SE 23 já foram registrados 7.267 casos suspeitos da febre.

Como se não bastasse, tivemos a estreia de um novo, e não menos importante, coadjuvante também transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, denominado Zika Vírus. Pesquisadores do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) descobriram o vírus causador da doença, cujos sintomas em muito se assemelham aos da dengue, porém de forma mais branda, e que andou assombrando os moradores da Bahia. Na América Latina, foi o primeiro indício da doença, que é mais comum na África e Ásia.

Mas por que a situação tem-se agravado tanto neste ano? Muito se culpa a situação da falta d’agua enfrentada recentemente, uma vez que muitos moradores das regiões afetadas adotaram o hábito de armazenar a água da chuva sem tomar os devidos cuidados, mas a situação não está grave apenas nessas regiões... Então o que está acontecendo? A realidade é que a grande massa anda bastante despreocupada com a real situação, especialmente quando a pauta é a prevenção.

No Brasil, são comuns alguns hábitos que contribuem muito para a situação que estamos enfrentando.

Muitas famílias, por exemplo, utilizam a reciclagem como complemento à renda – os materiais recicláveis geralmente são vendidos a empresas especializadas –, todavia essas famílias não atentam para o devido armazenamento desses materiais, que acabam tornando-se potenciais criadouros do mosquito transmissor dessas doenças. Ainda há casos de idosos que têm o costume de cultivar mudas de plantas diretamente na água e não se preocupam com os famosos pratinhos em vasos, que geralmente acumulam água parada. Também existe o curioso e estranho "hobby" de armazenamento de entulhos e materiais inservíveis nos quintais, que fazem das residências apenas mais um local de procriação desenfreada do mosquito.

Por outro lado, há pessoas que se preocupam em limpar seus quintais, mas depositam todo o entulho em vias públicas e exigem que as prefeituras tomem providências do recolhimento, inclusive de lixo doméstico. Outros muitos atravessam quarteirões para jogar lixo em áreas verdes ou terrenos baldios (alheios, obviamente), mesmo o município sendo dotado de coleta diária de lixo.

O problema está, pois, na cultura ou costumes, no comodismo e na falta de educação de grande parte da população.

Fui Agente Comunitário de Saúde por alguns anos, e ainda como profissional da área de saúde enxergo de perto esta triste realidade: a população não mais absorve as campanhas e orientações contra a dengue e afins. As orientações passadas pelos profissionais de saúde de casa em casa geralmente são ignoradas, e existe um erro na grande maioria das campanhas, que geralmente não transmitem a real gravidade da doença. É comum vermos campanhas televisivas, cartazes, folhetos e folders com caricaturas engraçadas do mosquito e peças teatrais com pessoas bizarramente fantasiadas, o que acaba atribuindo um ar cômico para a situação, quando, na realidade, as doenças são GRAVES e MATAM.

Está claro que as estratégias adotadas pelo poder público devem ser revistas e as campanhas urgentemente renovadas. A prática de multas severas deve ser implementada nos municípios sem deixar que interesses políticos interfiram – e talvez uma bonificação aos exemplares possa ser planejada. Reeducar a população é um desafio necessário; agir com urgência é preciso.

Não podemos generalizar, mas, se não fosse a falta de educação e de responsabilidade, o relaxo, a preguiça e, como nossos avós diziam, "falta de vergonha na cara" de uma grande fatia populacional, não estaríamos enfrentando essa situação e medidas drásticas talvez não precisariam ser adotadas.

Luiz Fernando Pavan da Silva: Acadêmico do curso de Administração da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS. E-mail: fernando.pvn@gmail.com

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