Arroz e feijão, por Reginaldo Villazón

Para os brasileiros de todas as regiões e classes sociais, o cardápio básico de arroz e feijão nas principais refeições é uma tradição prestigiada. Em todas as estações do ano, donas de casa e cozinheiros sabem como preparar o arroz e feijão – leve ou suculento – ideal para atender o prazer e a necessidade da ocasião. O arroz, com adição de temperos e ingredientes corretos, transforma-se numa iguaria. O feijão permite maiores ousadias, dos temperos que destacam o sabor do caldo até o irresistível tutu.

Houve época em que o arroz e feijão era comida popular dos brasileiros, apartada da culinária refinada, desmerecida. A marmita dos operários – arroz, feijão, alface e ovo – era motivo de piada. O último a cometer um sério deslize contra o arroz e feijão foi um ministro da agricultura, na década de 1990. Ele declarou que os brasileiros tinham que deixar de comer feijão, um alimento ultrapassado que consumia muita energia no preparo. Ninguém lhe deu atenção e todos continuaram a comer o arroz e feijão.

O tempo passou. Para surpresa nacional, chegaram notícias de pesquisas internacionais sobre qualidade de alimentação. A dieta brasileira de arroz e feijão ganhou destaque com elogios. O casamento destes alimentos mostrou-se perfeito por se completarem em elementos nutritivos. E não favoreceu a obesidade. Dali em diante, a qualidade deles não parou de crescer. Os pesquisadores criaram variedades de feijão com propriedades superiores. A oferta de arroz integral ganhou espaço nas prateleiras dos supermercados.

Os historiadores não se arriscam em dizer quando os brasileiros começaram a consumir o arroz e feijão (ambos, na mesma refeição). Mas nós não fomos os únicos na arte de casar os dois alimentos. O feijão cozido numa panela e acrescentado do arroz cru – para juntos chegarem ao cozimento final – é um prato estimado em países da América Central. É algo parecido com aquele prato popular, originado no Ceará, que ganhou fama com a música do pernambucano Luiz Gonzaga e do cearense Humberto Teixeira: "Baião de Dois".

O arroz e o feijão tiveram origens diferentes, mas se disseminaram e se tornaram conhecidos no mundo. Registros científicos apontam para origem do arroz há mais de dez mil anos na Ásia. Os árabes levaram o arroz à Europa. Espanhóis e portugueses contribuíram para seu cultivo na América. O feijão teve origem há dez mil anos na América do Sul. Foi cultivado e levado para o México. Mais tarde, no Egito e na Grécia, foi cultivado e consumido. As guerras e os viajantes ajudaram a sua difusão no mundo.

Hoje, cozinheiros mundo afora são hábeis no preparo de receitas de arroz e de feijão. Mas o encontro do arroz com o feijão no mesmo prato é uma feliz combinação que garante sabor e nutrição. Além disso, são companhias perfeitas para outros bons alimentos. (Quem pensou em couve refogada com ovos?). Arroz e feijão, juntos, fornecem metionina e lisina (eficientes no reparo do organismo), vitaminas, minerais e carboidratos. E não provocam altas taxas de açúcar e insulina na circulação. Isto é bom. Sem exagero, não há culpa.

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