O que a direita faz a esquerda não precisa saber, por Danilo Seidi Yoshida e Alexandre Farias Albuquerque

Recentemente, uma frase soou de maneira incisiva aos ouvidos do primeiro autor do artigo: "O que a direita faz a esquerda não precisa saber". As palavras ditas encontram-se na Bíblia e também em alguns "refrões" do cotidiano, induzindo ao entendimento de que não se deve vangloriar-se por atos feitos pelo bem de outrem.

No ambiente empresarial, a frase reflete, no entanto, uma realidade diferente. Presenciam-se cada vez mais empresas promovendo suas ações éticas e de responsabilidade social por meio de anúncios publicitários, transmitindo uma imagem de organização socialmente consciente nas operações que caracterizam seus negócios.

Será que um exame acurado das ações das grandes empresas indica responsabilidade social? Os gestores dessas organizações preocupam-se em equilibrar as expectativas dos acionistas aos interesses de funcionários, comunidade local, meio ambiente e sociedade como um todo? Ou isso é apenas fachada e as ações visam somente a cumprir a lei e evitar possíveis processos?

De acordo com Thompson Jr. et al (2008), empresas chefiadas por executivos morais e onde os princípios morais estão arraigados na cultura organizacional e na conduta dos seus funcionários têm uma chance maior de buscar o equilíbrio entre as expectativas de todos os interessados no bom desempenho da empresa (Stakeholders), embora saibamos que, no sistema capitalista, a empresa tem o dever de multiplicar o capital dos investidores.

Alguns gestores acreditam que ter ações ligadas a projetos sociais e ambientais é um fator de competitividade e também de sobrevivência no futuro. Os consumidores não estão exigindo apenas qualidade dos produtos, mas também o reconhecimento dos danos sociais ou ambientais causados pela empresa e a correspondente contrapartida.

Existem algumas companhias que operam com seriedade e comprometimento ético. Essas empresas passam, ao público, uma imagem de uma organização ecologicamente correta e que tem projetos sociais e ambientais que vão além de simples contribuições esporádicas. Seus consumidores sabem que, ao comprar seus fabricos, parte de seus desembolsos são destinados para melhorar a vida dos stakeholders e da sociedade como um todo.

Todavia, além dos líderes morais e da cultura organizacional, as exigências dos consumidores são fomentadoras das ações éticas e socialmente responsáveis executadas pelas empresas. Há também as obrigações legais – e muitas empresas se autodeclaram socialmente responsáveis apenas por cumprirem a lei. Os portadores de necessidades sociais conseguiriam emprego nas grandes empresas se não fosse com amparo legal? Com toda certeza, muitos teriam seu acesso questionado se não fosse a proteção da lei.

Fato é que as empresas já enxergam que suas obrigações e responsabilidades são investimentos de longo prazo e também jogadas de marketing. Guiadas pela multiplicação do lucro, reconhecem que o apoio à sociedade e ao ambiente também proporciona qualidade de vida e bem-estar à população.

Sempre ficará, no entanto, a dúvida: as empresas são socialmente responsáveis porque querem sê-lo, ou porque almejam evitar riscos de constrangimento, escândalos e possíveis ações disciplinares? Será que é possível, numa economia de mercado, que a maioria das empresas tenha lucro e realize suas atividades de forma ética e demonstre comportamento socialmente responsável? Quando essa possibilidade se realizar, a frase que gerou este texto passará a fazer sentido a toda a sociedade.

*Danilo Seidi Yoshida: Técnico em Administração e Acadêmico do curso de Administração da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS. e-mail: ds_yoshida@hotmail.com

*Alexandre Farias Albuquerque: Administrador e professor do curso de Administração da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS. e-mail: afaufms@gmail.com

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