O PAPA FRANCISCO EM SARAIEVO


D. Demétrio Valentini

Neste final de semana o Papa Francisco faz uma rápida visita a Saraievo, cidade situada na República da Bósnia Herzegovina, na região dos Bálcãs, na antiga Iugoslávia.
A primeira reação suscitada por esta notícia, vem em forma de pergunta: “O que vai fazer o Papa em Saraievo?”
È só conferir a história, que a resposta chega de imediato. Basta recordar que em Saraievo, a 30 de junho de 1914, foi assassinado o Príncipe Francisco Ferdinando, fato que desencadeou a primeira guerra mundial. 
A guerra começou em Saraievo.  Será que a paz pode passar agora por Saraievo?
É a aposta que faz o Papa Francisco, diante de uma Europa envolta em profunda crise, não só econômica, mas sobretudo étnica e cultural.
Saraievo se tornou símbolo da tentativa de uma convivência pacífica, capaz de integrar a diversidade de povos e culturas que marcam o continente europeu, e que se acentuam na região dos Bálcãs, fronteira história e geográfica entre a Europa Ocidental e Oriental.
Ao desmoronar a antiga Iugoslávia, em sequência ao desmoronamento da União Soviética, foram reconstituídas as anteriores identidades nacionais, resultando nas diversas repúblicas que compõem agora o mosaico político daquela região, profundamente marcada pela diversidade étnica, cultural e religiosa.
Emergiram então a Eslovênia, a Croácia, a Sérvia, a Bósnia Herzegovina, o Montenegro, a Macedônia, ao lado da Albânia que sempre se manteve autônoma ao longo das últimas escaramuças históricas.
Na verdade, por sua marca histórica, e por sua composição étnica, Saraievo permanece símbolo da necessidade de entendimento e de convivência pacífica, não só entre os países da Europa, mas do mundo todo. A população de Saraievo é composta de Bósnios (77%), Sérvios (12%) e de Croatas (7,5%).
Junto com esta diversidade étnica, Saraievo também se caracteriza pela diversidade religiosa, convivendo pacificamente ortodoxos, católicos e muçulmanos.
O Papa Francisco vem demonstrando uma sabedoria política muito refinada. Ele escolhe bem os lugares simbólicos, onde sua presença pode transmitir uma mensagem de paz, e um compromisso com a justiça.
Foi assim que ele visitou, por exemplo, a pequena ilha de Lampedusa, situada entre a Itália e o norte da África, ponto estratégico da travessia dos migrantes africanos que tentam ingressar na Europa. Lá ele colocou com ênfase o drama humano das situações de extrema pobreza, que forçam as migrações em direção aos países ricos.
As viagens para a Coréia, para a Palestina, para Istambul, também se explicam pelos mesmos motivos.
Lá onde o assassinato do Princípe Francisco desencadeou a primeira guerra mundial, chega agora o Papa Francisco, com sua proposta de convivência pacífica, e de abertura para a colaboração, superando as viciadas posturas de inúteis confrontos, que só desgastam e prejudicam os mais fracos.
O Papa vai a Saraievo. Mas de lá ele aponta para o mundo, necessitado de um novo entendimento global, que as guerras não são capazes de realizar.     
Saraievo não é só na Bósnia Herzegovina.  É também no mundo globalizado em que vivemos, para o qual o Papa Francisco propõe a “globalização da solidariedade”, para banir de vez as guerras fratricidas, que ainda causam milhões de vítimas neste mundo tão necessitado de paz.

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