Subdesenvolvidos, por Reginaldo Villazón

Olhar o mundo como um todo, aplainando as desigualdades, propicia conclusões generalizadas. Arremates, tais como: "o mundo é uma beleza" ou "o mundo está perdido". Já, observar o mundo – com o cuidado de reconhecer a diversidade existente – exige esforço maior para se chegar a respostas consistentes. O que existe e acontece em cada parte do planeta tem suas peculiaridades. Muitas vezes, fatos parecidos revelam diferenças importantes.

Por exemplo, quando se foca a violência no mundo, constata-se que ela contabiliza milhões de ocorrências por ano. No entanto, a violência não é uma regra geral. Ela se distribui desuniforme, concentra-se mais em umas do que em outras regiões. Além disso, ela assume modos diferentes: guerras, homicídios, suicídios, agressões, roubos e outros.

A organização internacional "Social Progress Imperative" classifica os países por índice de segurança pessoal. Segundo ela, os países mais seguros para se viver hoje são: Islândia, Suécia, Noruega, Suíça, Dinamarca, República Checa. Os países mais inseguros são: África do Sul, República Democrática do Congo, Afeganistão, Venezuela, Nigéria, Iraque. Não há como negar esta realidade. Existem mesmo países em que a cordialidade e o respeito da sociedade bastam para garantir a segurança. E outros países em que o medo prevalece.

O Brasil costuma se classificar entre as nações mais violentas do planeta. Não é a toa que os muros, grades, portões eletrônicos e câmeras de segurança aqui fazem sucesso. Mas o "Mapa da Violência" – com estatísticas de homicídios de 2012 –, aponta Estados mais violentos (Alagoas, Espírito Santo, Ceará, Goiás, Bahia) distanciados de Estados menos violentos (Santa Catarina, São Paulo, Piauí, Rio Grande do Sul, Minas Gerais).

O foco sobre outras questões sociais – saúde, educação, habitação, alimentação, emprego, renda – mostrará situações bem diversas (ótimas a lamentáveis) mundo afora. Mas, já faz tempo, ruiu a teoria de que a pobreza é uma fase natural obrigatória da história dos povos. Já faz décadas, o economista bengalês Muhammad Yunus (criador do microcrédito) provou que é possível melhorar a vida dos pobres sem grandes investimentos. Já é sabido, pessoas criativas com poucos recursos conseguem gerar empresas, emprego e renda.

No entanto, ao lado de situações sociais ótimas, as situações lamentáveis persistem. Por isto, eclodem crises sociais agudas. Grupos de mexicanos invadem o território dos Estados Unidos. Levas de haitianos chegam ao Brasil. Barcos lotados de africanos se arriscam rumo à Europa. Todos buscam condições humanas de vida. O que fazer?

Os líderes mundiais não estão preparados para enfrentar problemas sociais. A praxe manda que eles façam discursos evasivos, utilizem leis e armas para manter a ordem, tomem providências paliativas. Eles não enxergam que a base do desenvolvimento (e da solução das crises sociais) é o binômio "saúde e educação". A saúde produz efeitos diretos no trabalho, na produção, na renda e no consumo. A educação modifica as pessoas, civiliza seus modos, aprimora seus interesses, racionaliza suas decisões. Eis o cerne das questões sociais.

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