Realidades, por Reginaldo Villazón

Nesta semana, terça-feira (10), o engenheiro Pedro José Barusco Filho – funcionário aposentado da Petrobrás, ex-gerente executivo da Diretoria de Serviços da estatal e delator premiado da Operação Lava Jato da Polícia Federal – foi o primeiro depoente a ser ouvido na CPI da Petrobrás, na Câmara dos Deputados em Brasília. Por mais de sete horas, mantendo a postura regulamentar, falou claramente sobre a corrupção bilionária na empresa, citando nomes e valores, sem esconder sua participação na velhacaria.

Pedro Barusco se trata de um câncer detectado em 2013. Sua situação pessoal se complicou em 2014, quando foi apanhado na Operação Lava Jato. Optou por devolver 97 milhões de dólares recebidos de propinas e colaborar com as investigações, em troco de benefícios penais. Na sessão da CPI – aberta às emissoras de TV –, ele confirmou seu trato de devolver o dinheiro afanado, que lhe proporcionou uma fase de felicidade e outra de apavoramento. Disse que agora, agindo no sentido oposto, sente um alívio.

Guardada a proporção, a atitude de Pedro Barusco lembra a atitude de pessoas no leito de morte, quando fazem uma lúcida reflexão sobre a vida. Expressam sentimentos como estes, relatados por uma enfermeira britânica num livro: eu gostaria de ter vivido a vida que eu quisesse e não a vida que os outros quiseram para mim; eu gostaria de ter trabalhado menos; eu gostaria de ter expressado mais os meus sentimentos; eu gostaria de ter ficado mais tempo com os meus amigos; eu gostaria de ter-me permitido ser mais feliz.

Não é somente nas horas de infortúnio e na proximidade da morte que se pode cismar sobre a vida, avaliar fatos e atitudes, extrair destes bons ensinamentos. Muitas pessoas negligenciam a tranquilidade dos bons momentos e, mais tarde, o sossego da terceira idade. Deixam de aproveitar estas preciosas oportunidades para o crescimento interior. Arrastam-se pelas ilusões, enxergando tudo com os olhos alheios, pois desde a infância sofrem a influência autoritária dos formadores de opinião com suas verdades sentenciosas.

Sábios antigos e cientistas de hoje suspeitam que este mundo seja uma cópia imperfeita de uma realidade superior. Filmes – como "O show de Truman" (1998) e "Matrix" (1999) – contribuíram em favor da suposição de que vida é um "reality show", um episódio de realidades virtuais difíceis de serem desvendadas. Por isto, o ser humano tem que refletir em dois estágios. Primeiro, livrar-se das ideias pré-estabelecidas para enxergar objetivamente a vida. Segundo, pesar a importância das coisas da vida.

A riqueza mal gerida abre portas para prazeres caros: casas luxuosas e carros esportivos; roupas e joias de grife; hotéis e restaurantes de primeira classe. É um mergulho de cabeça em ilusões. O apego exagerado a pessoas, objetos e sentimentos aprisiona o indivíduo e produz frustrações. Começamos a entender a vida quando assumimos o dever de separar as verdades das ilusões, as questões importantes das irrelevantes, as coisas permanentes das transitórias. Como sendo, a vida, uma experiência temporária num "reality show".

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