Deu no Diário da Região de São José do Rio Prerto (SP), nesta quarta-feira, 25 de fevereiro: Em gravações, vereador tenta “negociar” cassação

Rodrigo Lima


O vereador de Jales André Ricardo Viotto (PSD), conhecido como Macetão, foi acusado ontem de tentar "negociar" a cassação da prefeita Eunice Mistilides da Silva (PTB). A voz dele aparece em gravações entregues ao Ministério Público. Dois registros em áudio foram feitos pelo ex-secretário de Planejamento Aldo José Nunes de Sá a partir do seu aparelho celular.

O material foi anexado em representação entregue ao promotor de Justiça Horival Marques de Freitas Júnior. Sá também acusa Macetão e outros vereadores de criarem esquema que teria fraudado o sorteio para a formação da Comissão Especial de Inquérito (CEI) e da Comissão Processante (CP) que apontaram irregularidades no contrato do lixo na gestão de Eunice.

A ex-prefeita foi cassada pelos parlamentares com base nas investigações da CEI. "Vocês não acreditam quando eu fiz o ‘esqueminha’ de eu e o Nishimoto sair naquela primeira comissão. Foi agora o mesmo ‘esqueminha’, agora no sorteio", disse Macetão na gravação feita pelo ex-secretário e obtida pelo Diário.

"Não é o mesmo ‘esqueminha’ do sorteio, cara. Vocês não sabem. Os caras sabem fazer isso, Aldo. Eles um...o Especiato é craque nessas coisas. Ele ensina toda vez, igual ontem o Rosalino ficou treinando a tarde inteira". De acordo com a gravação, o vereador do PSD se referiria a ex-prefeita como "mamãe". "Mas tudo é acordo. Igual eu falo para ‘mamãe’. ‘Mamãe’, eu sou o pomo de Aquiles, ou a senhora me agrada, ou eu não sei o que faço. O agradar que eu falo é ser parceiro, não é parceria", consta na gravação feita por Sá.

O ex-secretário pede agora ao promotor medida para anulação das investigações contra Eunice. Durante a gravação, Macetão menciona a nomeação do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, como ministro das Cidades.

"Então, o Kassab vai assumir o Ministério das Cidades. Entendeu? É asfalto que ‘Ave Maria’. Todo asfalto sai de lá. Falei pra ela (Eunice): a senhora solta as coisas e depois, segura. ‘Mamãe’ chama o cara, dá para o ‘cara’. Eu falei: é (sic) quatro ‘voto’. Agora, se eu não for, a senhora vai ter um voto só: só o Nishimoto vai ficar. (...) Entendeu? Eu falei pra ela. Ainda falei: quem sabe essa reunião, que vai acontecer em mais uma reunião do PT, eu pedi para não votar. Pra gente segurar, que não é o momento. Tô dando ideia pra não ter que dar vida para o ‘baixinho’. Não é o momento de dar vida para o ‘baixinho’", consta em trecho da gravação.

"Baixinho" seria como o vereador identificou o vice-prefeito Pedro Callado, que assumiu o comando do Executivo após a cassação de Eunice. Ontem, Macetão negou o conteúdo das gravações. Ele disse que Sá só poderia fazer as gravações com autorização judicial. "Esse cara (Sá) não tem escrúpulo. Eu nego tudo", disse o parlamentar do PSD ao comentar que as gravações poderiam ser "montagens". O promotor ainda avalia se abrirá ou não civil. Freitas Júnior afirmou que poderá ainda requisitar a abertura de um inquérito policial.

Ex-prefeita se diz ‘estarrecida’

O advogado da ex-prefeita Eunice Mistilides da Silva (PTB), Osmar Honorato Alves, afirmou ontem que a petebista ficou "estarrecida" com o conteúdo da representação entregue pelo ex-secretário de Planejamento Aldo José Nunes de Sá. Alves afirmou que vai ingressar hoje com ação na Justiça com o objetivo de tentar anular a sessão que cassou o mandato de Eunice. As gravações serão usadas como argumentos principais da ex-prefeita no processo.

Na representação, o ex-secretário afirmou também que depoimentos prestados na Comissão Especial de Inquérito (CEI) teriam sido adulterados. Ele cita alguns exemplos no documento protocolado no Ministério Público. Sá acusa o vereador André Ricardo Viotto (PSD), o Macetão, de fazer pressão psicológica sobre vereadores para que votassem a favor da cassação do mandato da ex-prefeita.

Cargos

O ex-secretário afirmou ainda que o então vice-prefeito havia prometido cargos aos parlamentares. "O doutor Pedro vai entrar, vai dar cargo para todos os vereadores. Vai indicar. Cada vereador vai ter dois.Então o PT vai ter quatro indicações", teria afirmado Macetão, que nega o conteúdo do diálogo.



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