Olhar melhor, por Reginaldo Villazón

Esta semana (27 janeiro 2015) foi celebrada a data dos 70 anos de libertação dos prisioneiros do campo de extermínio de Auschwitz, instalado no sul da Polônia pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Onze líderes europeus, representantes de 40 países e 300 sobreviventes do campo participaram da cerimônia. Estima-se que em Auschwitz, em menos de quatro anos, mais de um milhão de judeus (homens, mulheres e crianças) tenham sido mortos por fuzilamento, enforcamento e asfixia em câmaras de gás.

Neste mesmo dia (27 janeiro 2015), exatos 02 anos após o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), uma caminhada na cidade homenageou as 242 pessoas que morreram na tragédia e as 400 que ainda dependem de acompanhamento médico. Naquela festa universitária, mais de mil jovens lotavam a boate, que não possuía saídas de emergência. O fogo do show pirotécnico da banda se espalhou pelo material acústico inflamável do teto. A fumaça tóxica liberada foi responsável pela maioria das mortes e lesões.

Sobre Auschwitz, o primeiro-ministro do Estado de Israel declarou: "Preservar a memória do holocausto hoje é muito importante". Mas não falou da violência militar que o Estado de Israel pratica contra os palestinos, no território dos palestinos. De outra forma, um jovem que sobreviveu ao horror na Boate Kiss explicou: "Hoje eu penso mais antes de fazer as coisas. Dou mais valor a cada pessoa que está comigo. Não deixo para depois o que posso fazer agora. Não tenho vergonha de dizer: eu te amo".

Diante de fatos trágicos como estes (Auschwitz e Boate Kiss), é normal que as pessoas se assustem e procurem obter uma explicação imaterial. Religiosos e filósofos constroem teorias, partindo da existência de um Deus criador, sábio e justo. Para muitos deles, nada acontece sem a vontade e fora dos propósitos de Deus. Para outros, Deus dá liberdade às criaturas, respeitando as suas escolhas e ações. Para terceiros, Deus não criou o mal: o mal não existe, o mal consiste apenas na ausência do bem.

Estas teorias e outras podem ser aceitas com fé ou contestadas com argumentos. Muitas vezes, elas são adotadas ou desprezadas de maneira superficial para justificar conveniências. Ademais, por si mesmas elas não resolvem nem atenuam os sofrimentos das criaturas neste planeta. Por tudo isso, com freqüência as pessoas entram em crise existencial. O mundo continua produzindo e lamentando tragédias. As pessoas se vêem impotentes para alterar o rumo dos fatos e conter os sofrimentos dentro de limites.

O que está no alcance de todas as pessoas é a mudança individual de atitudes. O exemplo do jovem que sobreviveu ao horror na Boate Kiss é brilhante. Mudar o jeito de viver. Olhar melhor, prestar mais atenção e dar mais valor às pessoas e coisas que estão ao redor. Agir com responsabilidade. Amar. Enfim, dizer ao mundo: agora eu sou assim! Tal como disse o jovem. Nada mais do que isto. Parece simples. De fato, é simples. No entanto, é com estas atitudes simples que se evitam as tragédias e os arrependimentos.

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