O cerco se fecha, po Reginaldo Villazónr

Um fato é apenas um fato, quando sabemos observá-lo de forma objetiva, sem julgamento. No entanto, para compreendê-lo, é importante pesquisar a sua causa. Todos nós sabemos, até intuitivamente, que as coisas acontecem numa seqüência de causas e efeitos. Mas a identificação das causas e dos efeitos não é uma tarefa simples. Infelizmente, a pedagogia moral de antigas religiões ainda colabora para a simplificação e o erro. A realidade mostra que as causas e os efeitos se relacionam através de mecanismos complexos.
Fatos comuns guardam surpresas. Uma mulher, que sem razão aparente caía em choro compulsivo, passou por exames médicos de várias especialidades, até descobrir que tinha as crises após ingerir alimentos elaborados à base de milho, como óleo e margarina. Uma criança de aparência saudável, que sofria freqüentes dores de cabeça, nada apresentou nos exames do neurologista, do oculista e do dentista. Porém descobriu, com a ajuda de um nutrólogo, que suas dores de cabeça decorriam da ingestão de banana com calda de chocolate. 
A atual crise do abastecimento de água na região Sudeste – a mais rica e populosa do país – causa espanto porque a escassez de chuvas desta intensidade nunca foi esperada. Políticos, administradores públicos e população – todos – foram pegos despreparados, apesar dos alertas dos ambientalistas sobre os riscos da degradação ambiental. Em nível mundial, os cientistas constataram mudanças climáticas e previram alterações maiores. Discutiram suas causas, mas nunca deixaram de aconselhar medidas de proteção ambiental.
No Brasil, os cientistas apontaram que a velocidade dos ventos aumentou com a diminuição da cobertura vegetal, ou seja, com o desmatamento em larga escala. Isto provocou alterações bruscas nos regimes de temperatura e chuva. Recentemente, os cientistas afirmaram que da floresta amazônica partem correntes de ar úmido para virar chuvas na região Sudeste. Relatórios mundiais sobre o aquecimento global recomendam aos governos a redução do uso de combustíveis fósseis, das queimadas e dos desmatamentos.
A maior parte dos governantes e governados brasileiros reage sem convicção. Ruralistas se descuidam das nascentes e riachos, especuladores imobiliários avançam sobre áreas de proteção ambiental, legisladores favorecem a continuação do desmatamento da mata amazônica. Muita gente nem percebe que as questões ecológicas afetam a vida nas cidades. São questões urbanas: a captação e o uso da água; o tratamento e a destinação do esgoto; a infiltração da chuva no solo; a reciclagem do lixo; a proteção da flora e da fauna.
Cada dia fica mais difícil acreditar que a vida será normal nas cidades, sem pôr em prática ações de sustentabilidade ambiental. Fica difícil crer que a degradação ambiental promovida pelo homem nada tem a ver com as alterações climáticas perigosas. A administração local e o povo de cada município devem cuidar da sua cidade e do seu campo, tendo por objetivo o bem-estar geral e por precaução evitar o sofrimento. As comunidades que não se organizarem para esta empreitada, vão se flagelar por incompetência.

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