As andanças do Bispo (4), por D. Demétrio Valentini

4 - Os ventos que sopram do Chile


Em 1999, com sete viagens para o exterior, duas delas foram para o Chile. A primeira, no início de setembro, a convite das Nações Unidas, para participar de uma reunião preparatória da “Assembleia do Milênio”, que as Nações Unidas tinham pensado em fazer no ano 2000, para rever a organização das Nações Unidas. Queriam saber a opinião da sociedade civil. E me convidaram também. 
Foi na sede do CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina, que se encontra em Santiago, e que é uma espécie de representação das Nações Unidas na América do Sul. 
Ao chegar lá, me surpreendi, vendo que da Igreja Católica eu era o único representante, de todos os países. Fui o primeiro a falar. Procurei dar logo o meu recado: que se respeitem mais as “nações”, e ao mesmo tempo se comece uma “cidadania universal”, como embrião para um governo supra nacional, e que as Nações Unidas comecem por tirar os instrumentos de dominação que exploram hoje as nações pobres: a Dívida Externa, a lei das patentes, chamando a atenção sobretudo para o uso da biotecnologia, que pode arruinar a vida no planeta. 
Depois, me surpreendi vendo como ao longo do encontro, todos voltavam a se referir às minhas teses, dizendo: “como falou o Bispo...”
Em novembro, voltei ao Chile para participar do jubileu sacerdotal do Padre Sérgio Torres, que coordena a organização dos teólogos, os quais fazem questão de contar com minha presença nas suas assembléias.  
O Chile é um país espremido entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico, comprido e estreito. De todo lugar, se vê o cimo dos montes, muitas vezes brancos de neve, e em todo o lugar se está perto do mar. Esta geografia é a responsável por nossas chuvas no sul do Brasil. Pois é de lá que os ventos frios sobem para o Brasil, canalizados pelas montanhas e seguindo as planícies da Argentina, conseguem chegar até o Paraná, ou um pouco acima, seguindo pelos vales dos rios Paraná e Paraguai, e causando as mudanças de temperatura que provocam as chuvas. Assim, o Chile fica um pouco longe, mas nos interessa de perto.  Que os ventos continuem soprando, na hora certa!
Próximo seguimento: as terras maravilhosas da Argentina 

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