A moderna educação familiar da criança forja mentes criminosas, por Flávio Rodrigo Masson Carvalho


 
Estava relendo um texto de 2006, sobre o estado de anomia da sociedade brasileira de Edson Moreira, psicólogo e especialista em educação familiar da criança, e gostaria de trazer uma pequena síntese do texto, pois acredito ser de extrema importância, pois é uma tentativa de explicar a atual educação e a mente de nossos jovens.

A educação escolar e familiar da criança sofreu grandes transformações a partir dos anos 60. Cansados de uma educação patriarcal, severa e autoritária, intelectuais com alguma dose de ressentimento e ânsia de mudanças, além de ativistas políticos, começaram a colocar em cena teorias tidas como libertárias e emancipadoras. Entre as várias teorias, uma importante abordagem se firmou, enquanto outras tiveram fôlego passageiro. A abordagem inovadora que se estabeleceu e acabou dominando a cena educacional e que atualmente influencia poderosamente toda a educação brasileira foi batizada de construtivismo. O construtivismo reuniu em sua formulação psicólogos e educadores importantes, como PIAGET, VYGOTSKY, EMÍLIA FERREIRO, entre outros.

Piaget entendeu que a inteligência se desenvolve através de mudanças estruturais que determinam a forma de assimilação do conhecimento por parte do sujeito. Assim, uma criança que esteja no estágio pré-operacional está limitada às estruturas desse estágio e não poderá assimilar conhecimentos que exijam estruturas mais evoluídas, como as operações concretas e as operações formais. Por outro lado, a construção dessas estruturas cognitivas está sob controle do organismo e não podem de forma alguma ser modificadas de "fora para dentro". Por essa razão, no contexto educacional, os mestres devem se comportar como facilitadores, abstendo-se de querer ensinar aquilo que a criança não está estruturada para assimilar. Devem aguardar, pacientemente, que a criança "construa" as novas estruturas.

Posteriormente, o mesmo esquema do desenvolvimento cognitivo foi aplicado ao desenvolvimento moral. Especialmente o desenvolvimento moral deveria ser compreendido a partir de estruturas internas que ditarão o sentido do certo e do errado. Adequar a criança aos padrões normativos da sociedade deve ser completamente descartado. Para o construtivismo, o direcionamento pedagógico se equivale à coação intelectual e direcionamento ético se equivale à coação moral. Afirma Piaget: "A coação moral é parente próxima da coação intelectual" (Juízo Moral da Criança, São Paulo, Summus, 1994).

Coerentemente com o relativismo, ações que tradicionalmente têm uma valência moral são redefinidas de modo a perder qualquer possibilidade de serem más em si mesmas e, portanto, merecedoras de repreensão, como nos exemplos a seguir, extraídos de um texto do filósofo construtivista Henrique Nielse Neto (Filosofia da Educação):

- agressividade: conduta demonstrada quando existe frustração, quando as aspirações da vida não são realizadas, quando os desejos fracassam;

- violência: comportamento presente quando a frustração vai além do que o indivíduo pode suportar. Ao considerar que a violência seja uma força que atua no sujeito quebrando sua vontade que na origem é límpida, não fossem as aspirações frustradas por algum agente nocivo, não há como punir o sujeito que pratica tal violência, restando àqueles que estão à sua volta aceitar como legítima a violência praticada.

Assim, os comportamentos de controle, exigência de desempenho, exigência de limites, exposição à frustração, respeito à diferença entre o certo e o errado, punição dos comportamentos inadequados, entre outros, passaram a ser condenados como politicamente incorretos e produtores de traumas ou sofrimentos à criança. O vocábulo "controle" tornou-se palavrão impronunciável. Desenvolveu-se uma verdadeira paranóia educacional à possibilidade de causar algum trauma à criança.

Por outro lado, não sabendo como controlar o filho, ao perceberem a iminência da perda do controle do filho, os pais lançam mão de recursos repressivos que, por inexperiência de manejo, não logram êxito e reforçam um sentimento de culpa que irá inibir outras tentativas de controle, num processo cíclico que acaba por tornar a criança inábil para os enfrentamentos naturais da existência humana e especialmente frágil perante as frustrações.

Seguindo a orientação construtivista, essas crianças associam automaticamente frustração a agressividade e agressividade a violência. A educação, que deveria quebrar esses elos primitivos, passa a reforçá-los. É curioso como tantos e tão qualificados profissionais não puderam perceber, por tão longo tempo, o fato óbvio, conhecido de longa tradição, que não se pode educar uma criança sem frustrá-la...

Alcançando a adolescência, não tendo os pais os recursos para todos os objetos desejados pelo jovem, tais como prestígio entre os colegas, amizades, namorado (a), sentido de competência pessoal, ou mesmo bens materiais, o adolescente se rebela e torna-se presa fácil da delinquência, depressão, indolência e drogadicção, afinal, foi lançado em um mundo para o qual não foi definitivamente preparado. A vida torna-se "um vale de lágrimas", no dizer de Santo Agostinho, contra o qual reagirá violentamente.

Por essa razão os filhos das mães jovens, solteiras e pobres encontram-se na faixa de maior risco, nos Estados Unidos. Uma mãe jovem, solitária e pobre, via de regra, encontrará muito mais dificuldades em controlar o filho, desde as pequenas desobediências e birras da criança pequena até os comportamentos mais agressivos da adolescência, resultando, ao final, em uma personalidade frágil às frustrações e tentada a repetir no plano social o que aprendera no plano familiar: desconsiderar e agredir.

Contudo, em um país como o Brasil, em cujas famílias a figura da mãe sempre foi a de maior lastro, o risco da delinquência não é exclusivo dos filhos das mães jovens, solteiras e pobres. Distribui-se por toda a sociedade, bastando que os pais (solteiros ou casados) não tenham conseguido preparar o filho para as frustrações da vida e para a disciplina. Nos Estados Unidos, o fracasso educacional ocorre por incapacidade de um segmento social (mãe jovem, pobre e sem profissão); no Brasil, o fracasso ocorre pela orientação educacional equivocada. Por essa razão, pode-se afirmar como consequência: a educação moderna, marcada pela abordagem construtivista, especialmente no Brasil, destrói pela raiz a capacidade dos pais controlarem seus filhos, abrindo a esses as comportas da criminalidade.

Não temos fórmulas no que tange a educação de nossas crianças, mas com certeza está faltando humanismo e muito amor. Então seja mais humano, e ame muito, se assim fizer terá maior chance de acertar na educação de seu filho. *Flávio Rodrigo Masson Carvalho

Comentários