Honk Kong, por Reginaldo Villazón

Os brasileiros, no ano passado, lotaram avenidas das cidades para reivindicar mais investimentos públicos e melhoria dos serviços essenciais à população. Com o claro objetivo de denunciar as precariedades do país, exibiram cartazes: “Queremos escolas e hospitais de padrão Fifa”. Sem dúvida, isto foi manifestação política de um povo premido por necessidades, cobrando direitos democráticos. Hoje, em tempo de eleição, os brasileiros se inquietam com o futuro, com o que pode acontecer em decorrência do resultado eleitoral.
A agitação do povo, por uma democracia que atenda suas necessidades, não é privilégio do Brasil. Isto está acontecendo em todo o planeta, inclusive nos países orientais, cheios de problemas sociais, onde a democracia é abafada pelos chefes do poder. Durante muito tempo: governo foi governo, povo foi povo. O governo mandava, o povo obedecia. Parece que agora o povo se cansou de aceitar a vida como ela é, de aguardar dias melhores do futuro, de esperar a morte chegar para conquistar a felicidade celeste.
A questão não é simples. Na Europa, intensificam-se os movimentos separatistas de povos que desejam a autonomia de suas regiões, sem nada buscar em benefícios sociais. São os casos da Catalunha e do País Basco (Espanha), Escócia (Reino Unido), Córsega (França), Flandres (Bélgica), Lombardia (Itália). No mês passado, Hong Kong (China) passou a freqüentar os noticiários. Milhares de estudantes boicotaram as aulas e marcharam por reformas democráticas. E as manifestações se expandiram.
Hong Kong não é um lugar qualquer. Não é uma cidade chinesa, mas uma Região Administrativa Especial chinesa, com autonomia administrativa e sistema capitalista. Tem 7 milhões de habitantes numa área de 70% da cidade de São Paulo. Seu território é formado por uma área maior (uma península ligada ao continente), duas ilhas médias e várias ilhas pequenas. Situa-se na costa Sul da China, de frente para o Oceano Pacífico, numa região bastante povoada e de intenso comércio. Tem um excelente porto natural.
A presença dos ingleses imperiais na região (1842 a 1997), fazendo grande utilização comercial do porto, favoreceu o aumento da população e o progresso. Hoje, o inglês e o chinês são línguas oficiais. A renda per capita é alta, os impostos são baixos, a moeda é forte. As indústrias usam alta tecnologia. A cidade é vertical e moderna. A rede de transporte coletivo é extensa e eficiente. A qualidade e a expectativa de vida têm altas classificações. Estas condições socioeconômicas não podem gerar tamanha insatisfação.
Ocorre que o chefe do poder executivo é eleito (para o mandato de 5 anos) por um comitê eleitoral de 800 pessoas, que vota em candidatos indicados pelo governo central chinês. A população quer eleições democráticas, livres. Isto pode indicar que a democracia não é uma simples ferramenta de resolver problemas, mas uma aspiração do ser humano. Em qualquer ambiente, ela eclode. Se isto for verdade, vença A ou B nestas eleições, faça bom ou mau governo, os brasileiros vão continuar a luta por aspirações democráticas.

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