Ontem e hoje, por Reginaldo Villazón

Viver antigamente era muito bom. As cidades eram pequenas e calmas. As pessoas transitavam a pé ou de bicicleta sem pressa, preocupação ou medo. Cumpriam suas obrigações de trabalho, faziam compras, encontravam-se para conversar. Os prédios comerciais, térreos em sua maioria, eram maciços e não precisavam de escadas. As casas eram simples, com varandas e cozinhas amplas. Seus quintais, com árvores frutíferas e animais domésticos, eram a alegria das crianças. A vida passava no tempo certo para ser desfrutada com prazer.
Porém, viver como ontem era muito ruim. As pessoas eram mal informadas e ingênuas. Era importante estudar apenas os quatro anos do curso primário. A leitura se resumia aos clássicos da literatura brasileira. As notícias eram ouvidas no rádio, quase sempre com atraso de dias. As músicas, as novelas e os jogos de futebol também eram ouvidos no rádio. Muitas necessidades de saúde tinham tratamento precário. O acesso a profissões bem remuneradas era difícil, pois não havia cursos de formação nem oportunidades para muitos.
Viver agora, neste mundo moderno é uma maravilha. As cidades cresceram e evoluíram. As empresas oferecem muitos produtos e serviços em benefício da população. Para transitar dentro das cidades, há ônibus, táxis, metrôs e trens, além dos carros e motos próprios. A educação e a economia dão oportunidades de qualificação e emprego a milhões de pessoas. A medicina e a odontologia, especialmente nos centros mais desenvolvidos, são eficientes. A tecnologia oferece alto nível de informação, lazer e soluções práticas.
Entretanto, viver hoje é sofrido. Começa pela escassez de espaço, cada dia mais caro e menos disponível. As empresas se abrigam em prédios altos, os apartamentos impõem regras rígidas aos moradores, as casas perderam as varandas e os quintais. Sair de casa para trabalhar, estudar, comprar e outras atividades é horrível. Gasta-se dinheiro e tempo no trânsito. A tecnologia custa caro, exige mais trabalho e mais renda. Os contatos pessoais com parentes e amigos tornam-se raros. As pessoas vivem estressadas e adoecem.
No meio dessa controvérsia, está o ser humano. Não há como negar: o ser humano tem grande capacidade de adaptação. Mas as adaptações têm suas conseqüências. É por isto que hoje, mesmo nas grandes cidades, as pessoas quebram seu estilo de vida moderno e buscam suprir carências humanas, como numa volta ao passado. O homem freqüenta um bar, a mulher freqüenta um salão de beleza e ambos freqüentam uma padaria. Nesses lugares, são chamados pelos nomes e tratados com amizade. Sentem-se humanizados, fora da multidão.
É impossível viver no passado e é preciso aceitar o progresso. Mas, quando se vê que o convívio com animais ajuda a curar doenças da alma e do corpo, é preciso reconhecer que o passado pode melhorar a vida moderna no presente. Muitas coisas boas do passado podem ser reproduzidas hoje de modo melhorado. Tal como acontece na culinária. Pratos e ingredientes antigos são estudados pelos novos chefes de cozinha para criar uma culinária apurada e saudável. Assim, é preciso às vezes retornar ao passado para melhorar a vida hoje.

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