Popular erudito,por Reginlado Vilazon

Nesta semana, quarta-feira (23), expirou o dramaturgo, romancista e poeta Ariano Suassuna, aos 87 anos, em decorrência de um AVC (acidente vascular cerebral). Ele nasceu em João Pessoa (Paraíba) em 1927 e viveu no Recife (Pernambuco) desde 1942. Intelectual de profundas raízes nordestinas, era muito estimado pelos brasileiros. Foi membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 1990. Foi homenageado pela Escola de Samba Império Serrano, no Rio de Janeiro, em 2002. E pela Mancha Verde, em São Paulo, em 2008.
            Na condição de homem, em luta com as dificuldades existenciais, sua jornada terminou. O cidadão universal prosseguirá brilhando, alhures. Sua obra vai permanecer, enlevando corações neste mundo. Não dá para separar Ariano Suassuna de outros brasileiros, nordestinos de inteligência viva e sentimentos fortes. Como os escritores Jorge Amado, Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Como o economista Celso Furtado e o sociólogo Gilberto Freyre. Como o músico Luiz Gonzaga e o poeta Patativa do Assaré.
            Quando Ariano Suassuna nasceu, seu pai era governador do Estado da Paraíba. No ano seguinte, seu pai deixou o governo. A família foi morar no interior do Estado, onde Ariano conheceu o modo de vida e as artes populares da região. Aos quatorze anos, foi para o Recife estudar em bons colégios e formar-se em Direito. Trocou a advocacia, que exerceu por alguns anos, pela carreira de professor de Estética na Universidade de Pernambuco até aposentar-se. Mas, desde os tempos de estudante, envolveu-se com as artes regionais.
            Suas três primeiras peças teatrais – “Uma mulher vestida de sol”, “Cantam as harpas de Sião” e “Homens de barro” – foram escritas e encenadas nos tempos de estudante de Direito. Seu trabalho de dramaturgo se consolidou de 1950 a 1955 (escreveu seis peças, uma por ano). A última – “Auto da compadecida” – deu-lhe projeção nacional aos 28 anos. A peça teve ótimas montagens em todo o país. Em 2000, virou filme com elenco de primeira linha: Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Marco Nanini, Fernanda Montenegro outros.
            De modo intencional, Ariano Suassuna misturou na sua obra a arte popular e a arte erudita. Seus temas e personagens dizem respeito à cultura rural nordestina de forma escancarada, mostrando situações dramáticas e cômicas bem peculiares. Sem conflito, colocou neles elementos próprios da arte erudita. O modelo estético teatral chamado “Auto”, que ele utilizou, vem da Espanha medieval. Nele, há risos e lamentações, anjos e demônios, discussões filosóficas. A ação moralizadora tem sempre papel fundamental.
            Para pessoas da qualidade de Ariano Suassuna, a vida e a arte são como a mesma coisa. A vida tem alegrias e tristezas, virtudes e pecados, lutas e festas, dúvidas e certezas. A arte tem que ter tudo isto. É preciso se encantar com a arte para se encantar com a vida. É preciso sentir benevolência na arte para agir com benevolência na vida. Não pode haver motivo para separações. O popular e o erudito se unem para celebrar a vida com arte.

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