Antes da tempestade, por Reginaldo Villazón

O silêncio na natureza e a água espelhada no mar podem ser sinais de perigo. Para observadores experientes, podem servir de aviso de que algum perigo está para acontecer. No dizer popular – "A calmaria que vem antes da tempestade". Na mata, o explorador diminui a caminhada e aguça os sentidos. No mar, o navegador busca a leitura dos instrumentos – barômetro e termômetro – para prever as condições climáticas. Coisa parecida se dá na vida das nações. A tranqüilidade pode antecipar crises e surpreender muita gente.
Hoje, apesar da serenidade ostensiva dos líderes mundiais, os cientistas sociais chamam a atenção de que há sinais suficientes para acreditar que uma grande crise mundial está por vir. Isto traz à memória a crise de 1929. Em outubro daquele ano, as ações da bolsa de valores de Nova Iorque começaram a sofrer quedas sucessivas. Até 1932, elas perderam 90% do seu valor. Houve fechamento de empresas e um terço da população norte-americana ficou sem emprego. As conseqüências afetaram o comércio em nível mundial.
A última crise mundial (crise imobiliária de 2008) teve proporção menor. Também iniciou nos Estados Unidos, quando os juros subiram, a economia desaqueceu, os donos de imóveis financiados ficaram inadimplentes, os preços dos imóveis caíram e os bancos ficaram com um rombo nas garantias hipotecárias dos imóveis financiados. Esta crise mostrou como hoje uma perturbação financeira doméstica se propaga com força no mercado financeiro global. A interdependência financeira entre países cresceu com a globalização.
Agora, os Estados Unidos estão vivendo uma situação sócio-econômica complicada. Sua economia não produz o suficiente para sustentar o consumo da sua população. Isto obriga o país a importar e endividar-se. Os empresários norte-americanos projetam e fabricam seus produtos nos países menos desenvolvidos (onde a mão-de-obra é mais barata) e isto custa ao país milhões de empregos. A dívida pública (17,3 trilhões de dólares) é maior que o PIB. O número de pessoas pobres (46,5 milhões) é o maior entre os países desenvolvidos.
Para complicar, países emergentes como os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) aumentam sua participação no comércio mundial. O insucesso norte-americano, se desaguar na falta de pagamento aos credores e perda de credibilidade, vai significar um caos de amplitude mundial. Para proteção dos seus patrimônios, homens ricos já especulam em que aplicar suas finanças. Comprar dólares ou euros, ações de empresas norte-americanas ou européias? Nem pensar. Quem sabe, comprar moeda chinesa?
Dentro deste vasto cenário de crise sócio-econômica, é possível que voltar a atenção para a agricultura seja uma opção de bom-senso. É certo que a agricultura não tem a novidade e o brilho das novas tecnologias. Mas tem sua relevância destacada quando outras atividades perdem a prioridade em favor da sobrevivência e do bem-estar. É provável que hoje o maior inimigo da agricultura seja a sua prática de forma antiquada. Assim, investidores modernos e profissionais jovens podem ter na agricultura uma grande resposta às crises.

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